quinta-feira, maio 29, 2008

Roubei este boneco a um artista plástico de cuja obra gosto muito. Ele disse que se podia roubar e eu roubei. Não sei se abusivamente, acredito que também este blog apela ao boicoite. Não apenas a esta multinacional, mas às outras todas. Se não o blog, pelo menos este bloguista, com o pedido de desculpas aos restantes.

segunda-feira, maio 26, 2008

pinturas

Um dia, - não há muito tempo... creio que no verão passado - na Figueira da Foz, entrei numa galeria de arte para ver o que estava exposto. Era uma maneira de sentir o pulsar plástico de uma terra que tantos e (alguns) tão bons pintores tem entregue à fome local e, mesmo, nacional. Por acaso, o galerista conhecia-me. E guiou-me numa viagem pelos locais inacessíveis da casa, aos restos de antigas exposições que ainda estavam lá encostados a paredes invisitáveis, e muita pintura à espera de viagens para outras exposições. E, entre as tantas telas que espreitei com algum pudor mas outro tanto descaramento, estavam algumas que, de um modo particular, me tocaram. Eram de uma pintora chamada Elisabeth Leite, que não conheci do tempo em que frequentava aquelas geografias, e que se me apresentava com uma força estranha, desconcertante, às vezes a lembrar Paula Rego, outras a citar (ao meu olhar) alguma cultura pop decadente, despida de glamour, sem brilho que não o que lhe advém de um caracter forte, impresso com punhos fechados, certeiro, arte pugilista.
Recebi há uns dias, um convite para a inuaguração de uma exposição sua. A que não pude ir. Como sempre me acontece.
Mas curioso, fui à procura dela, e encontrei algumas coisas expostas na galeria nética que passo a mostrar-vos.

http://www.nunosacramento.com.pt/site/index.php?option=com_zoom&Itemid=37&catid=13

Sei que circula com mais presença na zona centro do país, e que recebeu, recentemente (entre 2005 e 2007) algumas menções dirigidas a jovens criadores.

vídeopoema PORTUGAL

Queria muito ter estado na última sessão das Quintas de Leitura, no Teatro do Campo Alegre, dedicada ao poeta Jorge Sousa Braga. Ele queria, eu queria, o João Gesta - o programador e animador destes saráus poéticos - queria... mas eu não pude. Ao mesmo tempo, tinha um compromisso mais abrangente com um espectáculo de teatro, no Teatro Carlos Alberto. Inconciliáveis os dois programas... Bolas! Mas, graças às maravilhas da técnica, e depois de pensar um bocadinho, pude estar presente através deste vídeopoema, com imagens seleccionadas e editadas pelo Pedro Guimarães e a sonorização do Paulo Sousa. Agora, depois de mostrado em primeira mão no recital, também já pode ser visto neste endereço.

http://www.pedroguimaraes.net/fotocafe_v2/?p=336

É sou ouver.

quinta-feira, maio 22, 2008

justiças

De repente, ou devagar -… pode muito bem ter sido coisa lenta, eu é que posso ter estado desatento…-, a justiça é coisa com grande ponto de interrogação à frente. A justiça dos homens, bem entendido. Caprichosa, vingativa, facciosa, pouco informada, injusta mesmo. E os casos sucedem-se a uma velocidade inimaginável.
O caso da criancinha que foi entregue a um casal de adopção e que agora, clarificada a paternidade, está a ser resgatada pelo pai biológico, num braço de ferro que se prolonga indefinidamente, ora se puxa por este lado ora se puxa pelo lado oposto, com a criança no meio da querela, elástica, a atrofiar e a des-crescer, rumo a uma incapacidade que não se sabe muito bem até onde a pode levar;
O caso de crimes de colarinho branco, onde se sente, à vista desarmada, que pouco ou quase nada se pode fazer para corrigir crimes (se é que se podem chamar assim, mesmo que não sentenciados como tal) que se sabe terem sido cometidos de facto, mas cujo enquadramento legal está desfasado das possibilidades da investigação…
O caso dos crimes de abuso sexual de menores, por exemplo o chamado caso Casa Pia, que se arrasta há já não sei quantos anos, num tribunal alfacinha e onde se não vislumbra um fim à vista, por muitas datas aventadas que já lhe tenham sido apostas…
E tantos, ai, tantos outros…
E agora os casos que envolvem Pinto da Costa entre outros arguidos, no chamado caso APITO DOURADO, já julgado no tribunal desportivo com o nome mais definitivo de APITO FINAL, mas ainda a fazer dores de cabeça nos tribunais comuns; e o caso de Avelino Ferreira Torres, a ser julgado em Marco de Canavezes, por abuso de poder, utilização indevida da autarquia em proveito próprio, entre outras acusações. De comum entre os dois, o facto de ambos, Pinto da Costa e Ferreira Torres, já terem solenemente afirmado acreditar sobretudo, e mais de uma vez, na justiça divina, em oposição à justiça terrena. Ferreira Torres diz que acredita igualmente na justiça de Fafe, que é uma justiça, a acreditar na história, produzida na primeira pessoa (qualquer que ela seja), e à base de cacete.
Ora, a convocação da justiça divina para esta querela, traz um dado novo ao problema: já não estou sozinho na desconfiança na falibilidade da justiça. Às vezes, penso-o, a justiça não é cega nem surda. Às vezes a justiça (vista-se a palavra com o jota maiúsculo) não se consegue cumprir. Só estranho é estar acompanhado, nesta minha desconfiança, e nesta ocasião, por tais companheiros de cepticismo. Fico a desconfiar…

terça-feira, maio 13, 2008

justiça, clama a irmã

Há notícias que, pela surpresa, nos fazem parar, abanar a cabeça, limpar as lentes dos óculos, e reler o que lemos de modo a clarificar ideias e ficar sem dúvidas, de tal modo elas são inusitadas, surpreendentes.
Esta li-a no JN, na última página, creio que na sexta-feira da semana que passou:
Uma antiga freira - antiga porque entretanto foi expulsa da ordem a que pertencia… assim mesmo, expulsa… - reclama, em tribunal normal, uma indemnização de cerca de 120 mil euros, por a Liga dos Servos de Jesus ter “frustrado as suas legítimas expectativas de vida” quando a expulsou, em 2001. O julgamento está a decorrer no Tribunal da Guarda.
O que é novidade, aqui, é o facto de a Igreja Católica, através, no caso, da Liga dos Servos de Jesus, ser obrigada a esgrimir argumentos em tribunal comum, a debater-se com as coisas mais terrenas que existem, mormente o dinheiro, o sujo dinheiro, a descer a um território que não está nada habituada a frequentar. E «nada habituada» é um eufemismo.
E o que é que está aqui em causa?
Vamos à história. A antiga freira, Maria de Fátima Diogo, actualmente com 53 anos, expulsa por «desobediência», exige a indemenização correspondente ao salário mínimo, que não recebeu, ao longo dos vinte e três anos em que esteve na ordem e em que prestou serviço gratuito e militante. Dir-se-à: pois, mas era suposto que o trabalho prestado fosse não remunerado. Sim, mas era igualmente suposto que a ordem pagasse em géneros, que fosse uma família (elas mesmas se designam por «irmãs») e um amparo na velhice da senhora e lhe fornecesse companhia até ao último dos seus dias. Com a expulsão por «desobediência», goraram-se essas expectativas da irmã.
Mas de que desobediência se trata? A ex-irmã afirma que pretendeu tirar um curso superior de assistente social em Coimbra, no que foi impedida pela madre-superiora que entendeu não ser conveniente. Depois de algumas discussões, creio-o, Maria de Fátima terá obedecido, mas a clivagem foi-se cavando com o correr do tempo dando azo, ou justificação, para que alguns anos depois, tivesse ocorrido a expulsão.
Maria de Fátima ingressou na Liga aos 24 anos, numa altura em que, diz, poderia ter optado por uma outra vida. Poderia ter casado e ter filhos, por exemplo. A escolha daquela família religiosa foi coisa imposta pela vontade desinteressada da ex-irmã e um apelo interior que decidiu seguir. Ingressou na Liga por vocação, em serviço, e a Liga ter-se-à comprometido com ela, num compromisso bilateral, definitivo e perpétuo. A expulsão quebrou esse compromisso.
Enquanto o julgamento não é concluído, Maria de Fátima Diogo continua com uma vida dedicada à Igreja: ajuda nas paróquias e até faz a celebração da palavra quando os párocos não podem... Entretanto, arranjou emprego como auxiliar de acção educativa da Câmara da Guarda que, desta maneira, lhe garante a sobrevivência.
O mundo está mesmo a mudar.

sábado, maio 10, 2008

o circo

Escrevi este texto, e gravei-o para a rádio, há cerca de um mês. Porque ainda está actual, (ainda que com uma ou outra alteração), atrevo-me a publicá-lo aqui. E faço-o por duas razões: porque a situação não se alterou; e porque depois de uma estadia - curta - no TC para a apresentação do último espectáculo de MALDOROR, quero, um dia destes, voltar ao tema. Ora, essa volta, só faz sentido com o texto primitivo.
Aqui fica:

Um ano e meio depois de ter sido reinaugurado com pompa e cerimónia, o Teatro Circo está pronto para fechar.
Antes disso, porém, estremece, definha orgulhosamente, tipo titanic, com os dourados a esmaecer. Continua a haver musica, sim, a banda não se cala um minuto sequer, mas isso faz parte da encenação. O velho ditado manda: the show mast go one. O barco já virou para um lado e para o outro mas os palhaços – a orquestra - amarraram-se à amurada e parece que se aguentam com estoicismo, segurando os instrumentos e fazendo alguma música improvável com eles. Os tripulantes, o mais profissionalmente que podem, lá vão aguentando as investidas das marés, sempre com um sorriso, pois claro, o que é que eles podem fazer?, e a chefia, para manter o barco a deriva, isto porque a casa das máquinas mete água por todos os lados – seja a casa das máquinas o que quer que seja – para manter o barco na tona desequilibrada que se lhe vai reconhecendo, vai deitando ao mar alguns mareantes que lhe parecem descartáveis e, assim, mais leve, acreditam que o barco promete mais um pouco de resistência estóica, até entrar pelo mar brumoso dentro, com orgulho e garbo.
O teatro circo, por muito agá que lhe enfiem pelas goelas do nome abaixo, é um barquinho que custou como se fosse um barcão. Mas nem porque os seus custos dispararam não sei quantas vezes – multiplicando, em muito, o preço inicialmente estabelecido – lhe dá um estatuto de coisa indispensável. Custou como um barcão, mas não passa de um barquinho. Quando os custos de manutenção começam a pesar excessivamente numa casa com a dinâmica que se pensava que o teatro fosse capaz assegurar, pouco ou nada se deve esperar do futuro desse estabelecimento.
Claro está que o problema do teatro circo não é único nem virgem no panorama cultural do país. Outras casas de cariz idêntico lutam contra os mesmíssimos fantasmas. Debatem-se, mas vão aguentando uma programação e uma dinâmica que não se vislumbra por aqui.
Eu nem sei de quem é a culpa, embora saiba – de consciência clara – que o problema está logo no início da coisa, nas obras, no andamento, nas opções, e etc. Mas disso não reza esta crónica.
Esta crónica tem por base uma série de despedimentos que, sei, chegou a um grupo de trabalhadores do teatro circo. Dizem-lhes que tenham paciência, mas que, quem manda, se enganou. Contrataram a pensar numa dinâmica, e a dinâmica não se confirmou. Que não se pode gastar na programação o que estavam a pensar gastar. Que vão reduzir drasticamente – a palavra é essa – o investimento na programação. Logo, não havendo programação, também não são necessários trabalhadores que a sustentem, que lhe dêem visibilidade, que recebam os espectadores que não vão chegar.
Os trabalhadores agora despedidos colectivamente, ressarcidos das obrigações salariais que a empresa tinha para com eles, saem, e deixam atrás de si um grande vazio. Não que o vazio sejam eles, agora despedidos. O vazio está em quem fica e no que, a carta é esclarecedora, diz que não consegue fazer.
Curiosamente, no mês passado, estive em Viseu, no Teatro Viriato. A sala está com problemas, técnicos diga-se, falta de investimento nessa área, mas a programação é de luxo. E equipa é fantástica. Até baby-sitter tem, para que os espectadores com filhos pequenos, possam desfrutar do espectáculo sem remorsos.
As cidades, como os teatros e as pessoas, não se medem aos palmos. Nem aos agás.

quinta-feira, maio 08, 2008

post social democrata

Já não e novidade para ninguém, a crise do PSD. Aconteceu, e pronto: o líder bateu com a porta, foi embora e ele é que sabe.
Bem entendido que ao gesto de bater a porta, deve esperar-se uma resposta qualquer, um estremecimento, um sobressalto, qualquer coisa que dê sentido à porta que bate. No PSD terá acontecido isso ou, talvez não. É a velha história: onde os mesmíssimos ruídos já acontecem por rotina, de pouco vale acrescentar o mesmo gesto, por mais vigoroso que seja, por mais pleno de sentido. É apenas mais um gesto, mais do mesmo. Que notícia é que isso merece? E que atenção acrescentada?
Surgiram candidatos a ser porta, sim, ou a ser o que quer que seja que ambicionem, mas parece-me que o gesto de Menezes terá caído em saco roto, pelo facto, simples, de o PSD ser já só porta. Nada mais havia para estremecer: nem paredes, nem janelas, nem reboco, nem estrutura eléctrica, nem pintura. E esse talvez seja o drama do PSD nos tempos que correm. É porta, porventura bonita, pomposa, mas porta apenas. Um truque de espaço que não dá para sítio nenhum, nem dentro nem fora, porque a noção de exterior e interior social democrata está esbatida de uma forma sinistra. A porta apenas dá para cargos, funções, tachos, onde as vaidades se confundem com as sobrevivências. Há um aparelho para alimentar, e esse aparelho é que é a porta. Batendo no aparelho, nada mais acontece, porque esse é o derradeiro gesto possível de agitação maior.
Naturalmente que a porta batida terá gemido. E no afã da sobrevivência, terá tentado encontrar um novo porteiro, alguma mão que dê sentido à maçaneta. Ora, acontece que a porta (com a maçaneta) e a sua moldura, sendo praticamente uma peça única, eram na realidade duas peças. Uma encaixa, parece, na perfeição na outra. Mas ao que assistimos, não é exactamente ao espectáculo dessa unidade. Ao que assistimos é à revolta da porta, também contra a moldura que a aprisiona, que lhe dá limites, que a estrafega.
A moldura ambiciona ser porta. Nada de mais. É uma ambição legítima. Mas precisa de não fracturar ainda mais o que parece irremediavelmente fracturado.
Em concreto, Santana Lopes, depois da experiência da liderança no PSD e no governo de Portugal, perdidas as eleições para Sócrates, fez a sua travessia do deserto. Para Santana, o deserto tem de ser muito pequenino, que ele não tem paciência para grandes caminhadas. Com a liderança de Menezes, insinuou-se para presidente da bancada parlamentar, um grupo que ele próprio organizou e, por isso, construiu segundo a sua vontade. E acha que cumpridos três anos de ausência (durante os quais foi deputado e presidente de bancada), está pronto para ser, de novo, a figura do partido. Ser protagonista está-lhe no sangue. O que é interessante saber é se o partido resiste a Santana. Dia 31 de Maio se saberá. Se não se souber antes.