quinta-feira, maio 08, 2008

post social democrata

Já não e novidade para ninguém, a crise do PSD. Aconteceu, e pronto: o líder bateu com a porta, foi embora e ele é que sabe.
Bem entendido que ao gesto de bater a porta, deve esperar-se uma resposta qualquer, um estremecimento, um sobressalto, qualquer coisa que dê sentido à porta que bate. No PSD terá acontecido isso ou, talvez não. É a velha história: onde os mesmíssimos ruídos já acontecem por rotina, de pouco vale acrescentar o mesmo gesto, por mais vigoroso que seja, por mais pleno de sentido. É apenas mais um gesto, mais do mesmo. Que notícia é que isso merece? E que atenção acrescentada?
Surgiram candidatos a ser porta, sim, ou a ser o que quer que seja que ambicionem, mas parece-me que o gesto de Menezes terá caído em saco roto, pelo facto, simples, de o PSD ser já só porta. Nada mais havia para estremecer: nem paredes, nem janelas, nem reboco, nem estrutura eléctrica, nem pintura. E esse talvez seja o drama do PSD nos tempos que correm. É porta, porventura bonita, pomposa, mas porta apenas. Um truque de espaço que não dá para sítio nenhum, nem dentro nem fora, porque a noção de exterior e interior social democrata está esbatida de uma forma sinistra. A porta apenas dá para cargos, funções, tachos, onde as vaidades se confundem com as sobrevivências. Há um aparelho para alimentar, e esse aparelho é que é a porta. Batendo no aparelho, nada mais acontece, porque esse é o derradeiro gesto possível de agitação maior.
Naturalmente que a porta batida terá gemido. E no afã da sobrevivência, terá tentado encontrar um novo porteiro, alguma mão que dê sentido à maçaneta. Ora, acontece que a porta (com a maçaneta) e a sua moldura, sendo praticamente uma peça única, eram na realidade duas peças. Uma encaixa, parece, na perfeição na outra. Mas ao que assistimos, não é exactamente ao espectáculo dessa unidade. Ao que assistimos é à revolta da porta, também contra a moldura que a aprisiona, que lhe dá limites, que a estrafega.
A moldura ambiciona ser porta. Nada de mais. É uma ambição legítima. Mas precisa de não fracturar ainda mais o que parece irremediavelmente fracturado.
Em concreto, Santana Lopes, depois da experiência da liderança no PSD e no governo de Portugal, perdidas as eleições para Sócrates, fez a sua travessia do deserto. Para Santana, o deserto tem de ser muito pequenino, que ele não tem paciência para grandes caminhadas. Com a liderança de Menezes, insinuou-se para presidente da bancada parlamentar, um grupo que ele próprio organizou e, por isso, construiu segundo a sua vontade. E acha que cumpridos três anos de ausência (durante os quais foi deputado e presidente de bancada), está pronto para ser, de novo, a figura do partido. Ser protagonista está-lhe no sangue. O que é interessante saber é se o partido resiste a Santana. Dia 31 de Maio se saberá. Se não se souber antes.