sábado, janeiro 19, 2008

histórias de camarim, 7

Das memórias do actor Chaby Pinheiro:
‘’Uma vez – estávamos na Figueira da Foz – o hotel era perto do teatro; quase junto ao cais; devia representar-se nessa noite o D. César de Bazan; era o primeiro espectáculo. Tínhamos acabado de jantar, por sinal nada bem, e disse à criada que nos preparasse chá e alguns pratos com carnes frias para depois do teatro.
Resposta textual da criada:
- Isso não pode ser.
- Não pode ser porquê?
- Porque a casa de jantar fecha às onze horas; o chá serve-se às dez e meia.
- Mas a essa hora estamos nós a representar.
- Quero lá saber se estão a representar…
Como vêem, a criada falava de papo.
- Bem, eu vou falar com o dono do hotel.
- Ai! Vai falar com o dono do hotel; o dono do hotel não sabe mais do que eu.
- Talvez assim seja, mas vou falar com ele.
A criada – soube-o depois – tinha as suas razões para falar como dona de casa.
Dirigi-me ao hoteleiro e disse o que desejava. Respondeu-me:
- O mais que posso fazer é o seguinte: tenho o chá na mesa e as carnes frias às onze em ponto, e os senhores, durante o intervalo de um acto ao outro, como o teatro é aqui perto, vêm cá cear.
Eis a solução que o homenzinho arranjou: um passeio pelo cais da Figueira, às onze da noite, vestido de D. César de Bazan, com botas e esporas, capa e chapéu e pluma.’’