quarta-feira, dezembro 05, 2007

mão morta - tributo

Estou a ouvir E SE DEPOIS…, um disco de tributo à banda bracarense MÃO MORTA e estou pasmado com o som, com a produção, com a qualidade das versões.
O disco é muito bom. Mas o disco e uma homenagem, um tributo, a uma das bandas singulares da cultura portuguesa.
Os Mão Morta são, quer se queira quer não, goste-se mais ou menos da música que vêm fazendo desde há já não sei quantos anos, um dos projectos musicais mais interessantes da música portuguesa.
Abro um parêntesis só para dizer que adoro usar a palavra projecto. Talvez porque me faz sentir mais em sintonia com o país que somos, onde tudo são projectos, culturais ou quaisquer outros, futebolísticos incluídos, excepto para o mister Scolari, para quem tudo são situações…). Os Mão Morta têm a sábia virtude de ter sabido estar ao lado da onda, qualquer que ela tenha sido, por mais atraente que ela fosse, ou mais prometedora que ela aparentasse ser. E a virtude maior que o grupo musical de braga (embora seja redutor adjectivá-la de musical… porque são algo que vai, perdoem-me os próprios, para além disso, para lá dessa minudência… com todo o respeito…) ostenta no seu curriculum, é a sua sobrevivência. Numa situação normal, o grupo já teria sucumbido às pressões dos media, ao ostracismo dos directores das gravadoras em território nacional, à política editorial das multinacionais, ao universo de ouvintes potencialmente contabilizáveis, à ideia consumista mais primária, à ditadura da play-list.
Só que os Mão Morta não são uma banda qualquer.
São teimosos. Militantes. E um bocadinho loucos, convenhamos.
É verdade que vivemos tempos em que o reconhecimento público é coisa prioritária. E faz bem ao ego. E nesse aspecto, os Mão morta têm o ego deles bem massajado, graças a um grupo de seguidores que não lhes têm dado tréguas. É massagem atrás de massagem. Onde alguns iluminados da nossa praça musical - ou qualquer outra - areiam táu-táu do grosso, logo se levantam os voluntariosos fãs que têm por incumbência missionária, manter altos os níveis de satisfação e conforto da banda. Não que eles precisem. Mas já agora…
E este disco é mais uma palmada nas costas, das que sabe bem receber.
E ainda por cima, é muito bom. Se bem que alguns dos nomes participantes neste tributo me sejam totalmente desconhecidos. Talvez por isso, a surpresa, para mim, seja ainda maior.
Material de primeira duma banda que, senti-o nitidamente na produção do espectáculo MALDOROR, tem um grupo de seguidores únicos, uma imagem bem construída, um lugar ganho à força de muita luta.
Nunca tinha ouvido falar duns tais THE TEMPLE, mas a versão construída a partir de BUDAPESTE é muito boa. A versão de OUB’LÁ, dos BALLA, também é muito interessante. Tal como a versão construída por um grupo (ou seja lá o que for) chamado VOLSTAD, com uma carga dramática que me inquieta. De especial a voz acriançada, mas enigmática, da rapariga, que conduz com rédea segura a narrativa, num diálogo cruzado com as teclas sintetizadas de enorme profundidade. E logo a seguir, a fantástica criação do projecto HOUDINI BLUES para CHARLES MANSON. E depois, o peso dos TWENTYINCHBURIAL e dos DEMON DAGGER (eia, já conhecia estes… Ah pois, e também já conhecia do DEAD COMBO, tal como já tinha ouvido falar dos MÉCANOSPHERE)…
Grade cena.
Parabéns aos MÃO MORTA.
O disco já está à venda na FNAC.

PS: é estranho pensar que Braga já tem uma FNAC.