sábado, novembro 03, 2007

academices

Não dá para perceber.
Ouvi-o na televisão, de raspão, num daqueles momentos em que somos apanhados de surpresa, distraídos, um garfo na mão e uma faca na outra, a boca ocupada com coisas relevantes, umas tripas bem cozinhadas, por exemplo, ou um outro qualquer assunto de importância inquestionável.
Dizia a notícia que, um grupo largo de estudantes de Porto e Braga, se tinham envolvido numa disputa qualquer, chegando a convocar argumentos mais radicais, gás pimenta, matracas e outros brinquedos, os punhos por certo e outras partes dos seus corpinhos muito pouco danónes, em plena cidade dos arcebispos.
Li, um dia depois, a cronologia dos acontecimentos num jornal diário da cidade, onde eram descritos com aparente exactidão, a via-sacra dos factos, com um horário devidamente preenchido, percursos e testemunhas.
Surpreendentemente, disseram-me no domingo, que estudantes de ambas as partes, – no entendimento de que haviam duas partes em confronto –, negaram a existência de perturbações, que nada se terá passado para lá e uma sã convivência, uma confraternização mais efusiva, académicos felizes que nada mais terão para contar aos respectivos confessores que uma dor de cabeça cuja causa desconhecem, uma visose decerto, que o tempo não está para outra coisa… Arrefeceu tão depressa…
Ao que se consegue saber pela imprensa, um comboio com cerca de três mil estudantes do Porto, terão alegremente descido na estação de Braga por volta das dez da manhã. Por aqui terão deambulado em alegre e alcoólica comunhão académica, até que as coisas terão descambado, e uma rixa se terá proporcionado, tendo uma série de gente procurado refúgio – torno a dizer que o li na imprensa – numa oficina da Rua Nova de Santa Cruz. Só a presença da polícia terá permitido que os estudantes sitiados pudessem abandonar as instalações onde se protegeram. O comboio terá partido de regresso ao Porto, por volta das seis da manhã.
Que as confusões acontecem quando menos se espera, já se sabe. Mas a verdade é que confusões durante as festas académicas, estão sempre mais perto de acontecer que em outras alturas. É a futebolização da vida social portuguesa, onde fenómenos como o holiganismo podem alastrar a outras actividades, melhor ou pior intencionadas.
Se podemos questionar a violência instalada na sociedade civil portuguesa, veja-se a noite do Porto, também podemos pôr em dúvida as práticas de praxe, passe a redundância, nas universidades nacionais. Casos de alarme a merecer a nossa atenção, são muitos. E não vale a pena pensar que são casos ocasionais, episódicos, dispersos, sem importância. Há muito que eles estão demasiado visíveis. Ou se pára a tempo, ou teremos acidente grave, de certeza. Para lá dos que já aconteceram e que não têm merecido a devida atenção.