terça-feira, outubro 16, 2007

histórias de camarim (4)

O grande actor português Augusto Rosa, filho de um outro grande actor (João Anastácio Rosa) e irmão de um actor (João Rosa), nas suas memórias, afirma que detestava digressões. Trabalhando normalmente em Lisboa, admitia ir em trabalho a Coimbra e ao Porto, com alegria e entusiasmo. Mas tudo o que fosse para além desses locais, já o caminho se fazia com sacrifício. Ou porque o alojamento na dita província ficasse aquém do mínimo do confortável, ou porque o público não era «educado», ou porque os teatro estavam degradados.
Em Guimarães, e passo a citar, «entrei à noite no palco do teatro e dirigi-me ao camarim que o contra-regra me indicou. Qual não foi o meu espanto quando vejo um compartimento muito caiadinho, com a porta guarnecida de sanefas de damasco vermelho agaloado a oiro, a mesa de caracterização com um frontal de altar e sua toalha de rendas, quatro castiçais de madeira doirada e algumas cadeiras e tamboretes de coiro. Fiquei sem saber se devia ajoelhar e fazer a oração, ou começar a pintar a cara! Tinha medo de profanar o recinto, decorado com tanto respeito e que me parecia uma capela.
Disseram-me depois, que a direcção incumbira o armador da igreja de enfeitar os camarins dos primeiros artistas, e o armador entendeu que a melhor, mais elegante e respeitosa maneira de o fazer era aquela.»