segunda-feira, outubro 01, 2007

ofendidos e mal pagos

1. Santana Lopes protagonizou na SIC-notícias, o acontecimento da semana que passou.
Enquanto, qual vulcão dos capelinhos, eruptava acerca das eleições no PSD, – propondo, relembre-se, o adiamento das ditas cujas, por força da destemperança de algumas manifestações e dúvidas instaladas -, viu ser-lhe cortada a palavra, isto é, a imagem, para que a têvê fosse, em directo, para o aeroporto da portela, acho eu, onde estava a chegar, vindo de Inglaterra em jacto particular, para uns merecidos dias, semanas ou meses de dourado desemprego, o treinador de futebol português José Mourinho.

2. Durante o tempo que durou a reportagem em directo, não muito, Santana teve tempo para desenhar a estratégia, ensaiar mentalmente o papel de político ofendido, e interpretá-lo com convicção de amador. Com todo o respeito! Suspeito que, enquanto dizia que não, esteve o tempo todo à espera de ser convencido a responder que sim. Por fim, dizendo que ia com pena, agradeceu, perorado, à senhora jornalista o amável convite, e que assim e que assado.

3. Santana podia ter abandonado o estúdio enquanto as câmaras estavam apontadas ao homem de sobretudo. Mas não. Esperto como um alho, capitalizou a desfaçatez. Depois de num primeiro momento ter patinado um pouco, talvez indeciso da sensatez da sua decisão, despediu-se em beleza logo que a entrevista parecia que ia ser retomada.

4. Estrategicamente desenhado no tempo que durou a reportagem – José Mourinho dizia na TV coisas inteligentes e importantes do género, «agora vou descansar, talvez vá pescar no Sado no barquinho que um seu colaborador se propõe comprar, tudo muito casual, muito displicente, como se as televisões ão tivessem sido avisadas da sua chegada… por quem» por quem» – o plano de Santana correu bem. O bater polido de porta de Santana, teve efeitos devastadores. Com Santana Lopes, saímos todos do estúdio, indignados perante tamanha perfídia. Tal como Santana, também nós estávamos a ver a SIC-notícias e a assistir àquele comentário, com evidente prejuízo da nossa vida pessoal, com sacrifício pessoal, e aquela interrupção prefigurou uma afronta que não conseguimos engolir. Com Santana abandonámos o estúdio e com ele, a uma só voz, também pensámos – e dissemos – que o país estava doido. Tão doido que nem percebemos que aquele comentador, aquele homem ofendido, já fora o nosso primeiro-ministro e que, por isso, merecia mais respeito. Não se faz aquilo a um homem. Ainda por cima um homem tão sofrido, tão desrespeitado.

5. Santana tem razão. O país está doido e nunca uma verdade ressoou com tanta violência.
Só o facto de se saber que Santana já foi secretário de estado de cultura, presidente de câmara (duas vezes, e Lisboa está incluída no rol), presidente do PSD-PPD e primeiro-ministro, não nos permite pensar o contrário.
O país está doido e é bem feito.