sábado, setembro 08, 2007

josé cid adão

José Cid, o conhecido cantor e compositor – já foi mais conhecido do que é hoje, eu sei, mas parece agora estar a ressurgir na popularidade – por qualquer razão que desconheço, tem-se multiplicado em depoimentos curtos sobre este ou aquele assunto, ou em entrevistas mais ou menos de fundo, quer dizer, publicações onde lhe oferecem mais tempo de antena. Recentemente li duas: uma, curta, no Correio da Manhã; e outra, de página inteira, no JN. Desassombrado como creio nunca o ter visto (quer dizer, lido… pelo menos depois da foto, nu em pêlo, com o disco a tapar-lhe as partes íntimas…), com aquele desassombro de quem se está nas tintas para o que as pessoas pensam sobre ele e do que ele pensa, Cid diz o que eu, nem em voz baixa perante os meus botões - singelos companheiros de desabafo - ouso balbuciar, quanto mais usando o megafone dos media.
Importa referir que, goste-se ou não dele quer enquanto cidadão quer como artista, Cid é uma personagem importante da nossa música. Cultivou – ou cultiva – os mais díspares estilos, escreveu centenas de canções que polvilham todos os géneros, do rock sinfónico ao quase pimba; produziu inúmeros artistas, maiores ou menores da nossa música; incomodou os diferentes poderes, antes e depois do 25 de Abril; actuou nos mais variados espaços, com mais ou menos luxo, com orquestra ou sozinho, sentado no seu piano electrónico. Se é certo que escreveu canções onde, apaixonado, declarava que «como o macaco gasta de bananas eu – ele, Cid - gosto de ti» ou outras rabichices do género «na cabana junto à praia», «cai neve em Nova York, faz sol no meu país…», e coisas quejandas, não é menos verdade que integrou o histórico quarteto 1111, por exemplo, e tantos outros projectos que a nossa memória curta vai esvaziando.
Por razão que desconheço, como há pouco dizia, vive uma espécie de ressurreição, uma segunda vida – ou terceira, ou quarta – e, por isso, tornou à rádio – mesmo nas condições em que a música portuguesa, grosso modo, é tratada – às televisões, aos espectáculos e, por força desse regresso que eu daqui saúdo efusivamente, às entrevistas.
Numa delas, questionado sobre o que achava da operação plástica que uma jovem artista nortenha (cantora e actriz) fizera aos seios, encheu-se de brios e, como elefante em loja de porcelanas, declarou alto e bom som, que a rapariga, «em vez de aumentar as mamas – e estou a citar – devia era aumentar a qualidade das suas prestações artísticas».
E não é que eu penso o mesmo? Um dia destes estou a saltar de cavalo e a militar na monarquia.
Daqui, deste cantinho, saúdo o seu regresso – se é que de um regresso se trata – José Cid. Saúdo a coragem do cidadão desassombrado (que falta fazem), e o mérito do artista.