terça-feira, outubro 02, 2007

histórias de camarim (1)

Não sei que actor português, detestava colar postiços.
As colas, muito desagradáveis, irritavam-lhe a pele. Sentia-se infeliz, com a obrigação de acrescentar bigodes, peras ou suíças, para melhor defenir e caracterizar as personagens que ia defendendo. Consta que este actor, (no tempo em que actor se escrevia antes do nome: actor Dias; actor Brazão; e as actrizes se chamavam senhora dona Lucinda, senhora dona Eduarda, etc), minutos antes de começar o espectáculo, cheio de estatuto, costumava chamar o assistente de camarim, e dizia-lhe: «oh rapaz, ora vai lá ver se hoje há público para bigodes»... Independentemente de ser esse, ou não, o postiço que usava naquela peça. «Bigodes» significava, pois, todo e qualquer postiço a que estava obrigado. Queria ele dizer que só colava a bigodaça, se a casa tivesse mais que determinado número de espectadores: o chamado número mínino indispensável para colar biogodes.
E quando o rapaz voltava com a contabilidade feita, ela sabia se escapava à tortura da cola ou não. Quanto menos público, menos sofrimento. Quanto mais espectadores, maior o sofrimento.
Ou como, às vzees, o mundo anda mesmo ao contrário.