quarta-feira, dezembro 19, 2007

aniversários

Num mais ou menos recente concurso televisivo, cujo objectivo – apelando à participação popular tipo sondagem sem regras – uma franja dos portugueses votantes, decidiu eleger Salazar, o português que quase se eternizava na presidência de um governo paroquial, não fora aquela queda de uma cadeira carunchosa, enquanto lhe tratavam dos pés macerados e que exigiam, todos os meses, tratamento especializado. Olha, talvez venha daí a expressão, vê lá se queres que te trate os calos.
Ganhou Salazar, ficou em segundo Cunhal e em terceiro, se me não falha a memória, Aristides Sousa Mendes, um português que ninguém conhece, mas que me proporcionou, a mim figueirense, (aos que estiveram antes de mim, condescendo), um pouco mais de muita civilização. Mas isso são contas de um outro rosário. O curioso da votação, disse-o na altura, é que os nomeados eram, quase todos, gente do nosso tempo, homens próximos de nós e na nossa memória, o que me levou a pensar - e a escrever - que, de facto, temos a memória curta, e a prova aí estava, quem quer que fossem os votantes. Mesmo pensando que os dados recolhidos eram coisa manipulada, que remetiam para uma mensagem que ia muito para além do programa de entretenimento televisivo que era o que a coisa realmente era.
Não sei se foi considerado, mas em lugar de destaque não foi certamente, o nome de Manoel de Oliveira.
Ora, Manuel de Oliveira é, sem dúvida, uma das personalidades portuguesas mais reverenciadas. É um dos nomes mais sonantes do cinema internacional e logo, do cinema nacional. É uma voz - como agora se diz quando queremos determinar um autor - e, hélas, fez 99 anos de vida. Há pessoas assim, que vão para lá das estatísticas. Andamos nós a ver se conseguimos reduzir a idade da reforma, queixamo-nos que aos 65 já estaremos para lá de marraquexe, e eis que Manoel, aos 99, não pára de fazer filmes. Tantos – estreia em breve, no aniversário precisamente, um sobre Cristóvão Colombo – que já lhe perdemos a conta. E não consta que lhe passe sequer pela cabeça, reformar-se. O estado português é que, a acreditar numa manchete publicada no fim-de-semana da efeméride, está preocupado com a situação. E o que podia ser triste – e continua a sê-lo, mas a coisa até pode dar para anedota – é que criou uma directiva qualquer, li-o, que determina que não haja financiamento estatal a Oliveira depois que ele conclua o centenário. Toma lá dinheiro para mais duas fitas, sem concurso, mas depois dos cem… Nem! Pensar. Ou seja, discrimina-se Oliveira.
Mas aqui entre nós que ninguém nos ouve, tomara eu uma descriminação destas.
Parabéns Manoel.
E já agora, lembro-vos que o grande arquitecto Oscar Nyemaier fez 100 na semana passada.
Hurra!