sábado, agosto 25, 2007

pico inhices

Para acabar de vez com as velhas insinuações – minhas também, mea culpa, mea culpa (isto sou eu a bater no peito…) – de que nós, portugueses, somos a coisinha pior que o mundo conhece, gente incapaz de gestos que nos coloque a salvo desse triste epíteto, eis que chega a notícia porque todos ambicionávamos, a nova que nos consola, que nos restaurara ego rasurado e, pela qual, por isso mesmo, esperávamos com impaciência ressacada: os Açores, os nossos Açores, (quer dizer, os do Carlos César… a César o que é de César… já não sei onde é que li isto…), mas os nossos Açores, dizia eu, para além de trazerem ao mundo a conhecida instabilidade climática graças à acção do seu afamado anticiclone, (coisa fina, e que é, como se sabe, muito falada pelo mundo fora, não há furacão ou ventozinho que não se desculpe com o anticiclone), mas os Açores – e estou sempre a recomeçar o pensamento… que vício… – dão agora a esse mesmo mundo tantas vezes deprimido, um fantástico produto para combater essa nefasta depressão: os Açores produzem cannabis da melhor qualidade, dos melhores que se conhece. Qual haxixe afegão, qual quê. Qual haxixe marroquino, qual carapuça. O haxixe açoriano é o que está a dar, dizem os especialistas.
Incrédulos, é o mínimo que se poderia dizer – digo eu, que fui um dos apanhados de surpresa com a revelação – do estado de espírito dos empata-ganzas da bófia açoriana, quando deram de caras, com uma regularidade enfadonha mas também misteriosa, com os vários fardos de material que iam encontrando em cada esquina da improvável investigação.
Mal sabiam eles, como já disse, que a cannabis plantada na ilha do Pico, por exemplo, está entre as melhores que se conhecem, segundo classificava, um dia destes, um dos sites holandeses mais respeitados em matéria de ganza. E como se sabe, os holandeses são especialistas, e Amesterdão é, talvez, a capital mais experimentadora. O número de plantações escondidas, ilícitas portanto, na ilha, tem vindo a crescer na zona, em parte, advogam os entendidos, graças a um clima húmido favorável e ao solo vulcânico.
Estes encontros imediatos já produziram dois presos na ilha do Faial – um crime lesa pátria, digo eu… – e no passado fim-de-semana, foram apreendidos 17 quilos de liamba, um tipo de cannabis, na ilha do Pico, para gáudio dos polícias locais.
Acredito que o dito gáudio é pela apreensão, pois, mas também pela alegria que, durante dezassete quilos, deve reinar por aqueles sítios.
Tá-se bem! Yo!

terça-feira, agosto 21, 2007

publicidade especial em Turim

«ernest hemingway, escritor, nunca entrou neste bar»

terça-feira, agosto 14, 2007

inentendimentos

Já há muito tempo que não embarco em manifestações. Sabem? Aquelas coisas tribais, espontâneas ou convocadas, reuniões onde um grupo de pessoas manifesta publicamente, e em grupo, (quantas mais melhor) os seus anseios, ou o seu desagrado, Estão a ver? Nas últimas em que estive, ambas, tiveram a ver com a questão do Rivoli, teatro do Porto desagregado do município pela administração autárquica que, na minha opinião, alijou responsabilidades. La Féria, o «vencedor» do concurso público que a autarquia desencadeou, não era o problema central, ao contrário do que chegou a parecer, não deixando, porém, também o ser, na convicção íntima dos manifestantes e do público informado em geral. É entendimento generalizado que o homem está a fazer pela vida, é empresário, objectiva o lucro, e ponto final. Não discuto em público (pelo menos para já) as motivações empresariais do senhor, tal como não discuto o seu passado artístico.
Mas voltemos ás manifestações:
Antes dessas duas a que aludi, estive nas manifestações Por Timor. Envolvidíssimo, aliás. Apaixonado. Militante. Sincero e genuíno. Não sei se por carregar este sentimento de culpa por uma descolonização mal realizada, se por este peso judaico-cristão que me está nos genes e na cultura assimilada. E gritei pela libertação de Xanana, apoiei Ramos Horta, pus velinhas pelo bispo Ximenes, vesti de branco pelo povo castigado, assinei textos pela independência de Timor, e eu sei lá que mais.
Desde há algum tempo que estou desiludido. Por força do apego ao poder de algumas destas figuras, pela instabilidade de que vamos ter notícias. Tenho pena de estar desiludido.
Xanana já não e o Che dos meus desejos.
Não percebo.

a tê vê

Devemos estar prestes a assistir à detenção em directo de meia dúzia de foragidos do estabelecimento prisional de Guimarães. Os carros de exteriores já estão num determinado bairro de Felgueiras, onde se julga que os seis meliantes estão encurralados. Vi na TV um exterior desse bairro que, com a câmara, varreu as janelas de algumas casas, sejam elas as dos familiares dos foragidos, ou não. Estão armados. Como devem ter encontrado apoio nessas casas (familiares, amigos), prevê-se muita emoção. Em directo na TV. Que pena não ter cabo.

ainda há pastores

Já Não Há Pastores?, perguntava o filme, logo no genérico, aos muitos espectadores que procuraram lugar na plateia improvisada da esplanada Silva Guimarães, ontem à noite, na Figueira da Foz. O filme encarregar-se-ia de dizer que sim, que ainda há, mesmo que estejam em vias de extinção. E fazia contas connosco, matemática de sobrevivência: que na serra, naquela serra, já houvera dezenas, talvez centenas deles, há uns anos atrás e que, agora haverá uns dez, contas fáceis de fazer pelos dedos das mãos, esquerda e direita, as mesmas que se haveriam de unir no final da exibição, sincopadamente, a palma contra a palma
E depois, o filma arrancou para nos contar a história de um deles, o mais novo deles, Hermínio, trinta anos ou coisa que o valha, um rapazola perdido na serra, entre o destino e o desejo, agarrado ao leitor de cassetes que vomita Quim Barreiros e a um telemóvel providencial que no decorrer das filmagens (quatro ou cinco anos) lhe fora parar às mãos com requintes de Ponte de Encontro.
Trata-se de um filme maior, um documento fantástico, muito bem filmado, melhor montado. Um filme que se desenvolve nos interstícios de quatro ou cinco Invernos e demais estações (o Inverno é mais fantasmagórico, porque se joga no limiar da capacidade de resistência humana), dia após dia, sequências de tempos emborcados pela fita, como os copos de tinto que correram, livres, na goela do jovem pastor, enquanto durou a visualização.
Depois do filme, o realizador, Jorge Pelicano, colocando o dedo na ferida menor que o filme deixa a latejar, diria, em jeito de desejo íntimo: espero que se tenham rido COM o Hermínio, e não DO Hermínio.
Essa seria, sem dúvida, concluo, uma injustiça que o filme, de todo, não merece.
O DVD está à venda nas lojas FNAC.
A não perder.

terça-feira, agosto 07, 2007

portugal, no fundo

Já lá vai a época dos descobrimentos marítimos, e há que tempos que isso foi, e ainda hoje, vejam lá, se cravam bandeiras em solos inexplorados, tudo em nome de nacionalismos que julgávamos impossíveis de ver, marcas que supúnhamos ultrapassadas pela voragem do tempo e, com ele, das mentalidades. Seja na lua, pela mão de Neil Armstrong (o tal da frase «um pequeno passo para o homem, blá blá blá blá blá blá», e que alguns defendem – como o meu avô pensava – ser uma treta do tamanho dum camião TIR, porque tudo não passou de uma encenação mal enjorcada); seja nos confins do oceano, pela mão de meia dúzia de russos dentro de dois submarinos, a reivindicar um solo a ninguém ainda tem acesso, talvez lá para dois mil e troca o passo, se lá chegarmos, após o degelo.
Mas porque nestas coisas de pioneirismos não há nada como ir dando pequenos passos («um pequeno passo para o homem…», lá está!), os portugas já começaram a tratar da coisa e, vai daí, numa eleição ONUESCA, garantiram para o colégio dos sábios, (daqueles vinte e um que vão decidir as fronteiras dos novos territórios submergidos), a presença de um português que, diz o jornal Público numa edição recente, garantiu a eleição graças a uma campanha eleitoral aguerrida, que meteu pin’s, brochuras e tudo. Tipo eleições para a associação de estudantes. E garantiu, parece, desde já, um pedaço mais de território português, para lá das duzentas milhas de mar que estão pré-garantidos, há que tempos, pela lei internacional. Não se sabe muito bem no que é que lucraremos com aquele pedaço de Portugal, mas já está garantido. Mesmo que forneça coisas menores, coisas despiciendas, por causa das dúvidas, já está no papo. Que nestas coisas de adivinhações territoriais, estamos mais que avisados, desde o Tratado de Tordesilhas. Tanto que o Réu teimou, que porfiou. Sabia-se lá o que é que estava para além das voltas que as caravelas já davam (ainda que, teorias várias, levantem a suspeita de um conhecimento, mais que adivinhado, já navegado…), mas mesmo assim, a teimosia do Rei Portuga falou mais forte, ele lá sabia o que fazia, e graças a ela, à teimosia régia, o Brasil foi nosso, e com o Brasil, as mulatas, as telenovelas, as férias em Natal, o ouro, os escravos, a caipirinha e tantas maravilhas mais.
Então não valeu a pena? Valeu pois.
E depois, a época dos re-descobrimentos, é quando um homem quiser. Ontem como hoje. Hoje como… logo se vê.
Viva o novo Portugal subaquático.