sexta-feira, outubro 31, 2014

para o fundo

Os programas das televisões nacionais, de todas sem excepção, nas longas manhãs e tardes de todos os dias, fazem lembrar o Majestic. Não o emblemático café da rua de Santa Catarina, no Porto, não. Mas sim o barco do mesmo nome, i tal que era sólido, que nunca afundava conforme rezava a publicidade. E afundou. Só que sem o chique que era viajar em tamanha embarcação, que mesmo afundando mercê de um choque com um icebergue, e com a anarquia quase absoluta instalada no barco, com toda a gente procurando um derradeiro bilhete que desse acesso a um bote salva vidas, mantinha, ainda que não bem eufórica, a orquestra a tocar. Era música de fundo no caos que mesmo não o corrigindo ou organizando, dava um ar de coisa normal, de coisa habitual, ao exercício. Bem entendido que as canções tocadas eram completamente diferentes das que hoje ouvimos nas televisões nacionais. As de hoje são tenebrosamente pimba, e atiram para os píncaros, os emanueis e quim barreiros desta vida, para o altar dos catedráticos, o olímpio dos músicos, tão baixa é a qualidade musical das obras que agora lá se apresentam. O que é facto comum, é que o barco, como o país, afunda a cada minuto que passa. Pode ver-se menos ou mais  nitidamente, dependendo do sítio onde todos estamos. E um dia destes iremos ser culpados pelo afundamento, porque não soubemos ajudar a tempo, lançando-nos para a morte gelada, e num patriótico salto, alijando peso e lastro que proporcionariam mais uns minutos de flutuação ao barco perdido, juntarmos-nos ao grupo dos mártires da pátria, como nome de rua e tudo.
Os sinais estão aí, todos perfeitamente identificáveis. Os valores que deviam organizar a vida dos humanos, são facilmente convertidos numa outra coisa qualquer, e mesmo pensando o contrário do que sabemos dever ser feito, acabamos fazendo o que achamos errado só porque acima de nos está o bem comum, mesmo que, sem o sabermos, esse bem comum é, final e estrategicamente, o bem de apenas meia dúzia. Que se lixe o mexilhão.
Sem que o saibamos, até porque entretanto se perderam os papéis que os inculpam, os maiores já não estão no barco, já saíram, apenas cá estão uns quantos, marionetas desses outros. Enquanto uns quantos privilegiados lutam por um lugar no bote, os maiores já saíram de helicóptero, já estão noutras embarcações que os aguardavam, que tinham por missão aguardar a sua chegada, porque apenas são plataformas para outros caminhos, outros salvamentos, outras vidas.

Neste entretanto, a orquestra continua a tocar. Mas tão mal, tão tacanhamente, que mete deveras medo, um medo aterrorizador. A morte em tão má companhia. O inferno na terra.

quinta-feira, outubro 16, 2014

crónica dos dias

Marinho & Pinto acrescentou há dois domingos atrás, o seu partido, designado Democrático E Republicano, ao espectro partidário nacional. Ele e Jose Cid, que ao lado do juiz Rui Rangel tb apresentou o seu, deles, partido, situado ali mesmo no centro, entre o partido socialista e o partido social democrata, e que congrega o que de melhor há nos dois, dizem, e rejeita o que de mais hediondo habita neles. Um programa & peras, porque a esse propósito não há mais nada a dizer.
Nas próximas eleições, lá estarão entre as nossas opcões democráticas, no boletim de voto. A seu sufragados e sondados à boca das urnas, na expeculaçao de uma votação, informatizados.
Pela mesma informática que está a dar cabo de tudo, essa é que é essa.
Ele é a justiça, ele é a educação...
Um professor que tinha desistido do concurso em meados de setembro, foi ainda assim colocado em 75 escolas. Não uma, nem duas, mas em setenta e cinco. Com isso, deixa-se cerca de 1500 alunos sem aulas da disciplina que ele ministra, porque o homem não consegue cumprir setenta e cnco horários ao longo do país.
Eu, no lugar dele, com tantas colocações, fazia um leilão. Quem quer um horário completo em Loulé? A base de licitação poderia ser, suponhamos, de trezentos euros. E assim sucessivamente. Lugares como a secundária de castelo branco, tinha de ter uma base de licitação mais baixa, pois está claro. Tudo dependeria da procura e do status dos lugares.
Na justiça, um problema informático, a que. Ministra chamou percalço ou sobresalto ou coisa do género, continua nas bocas do mundo. Ou a infernizar os nossos tribunais. E tudo isso sem que nada aparentemente aconteça.
Na educação está tudo a assobiar para o teto. O ministro que exige competência aos professores, obrigando-os a provas intercalares que avaliam essa mesma competencia, é o que não é competente na tarefa básica de colocação dos professores. E nada acontece.
Consta que Crato tem 13 motoristas que ganham melhor, ou seja mais, muito mais, que qualquer professor. Daqueles que o ministério que tutela, coloca e descoloca, a norte e a sul, a este e a oeste, acioma e abaixo da lei. Não estando em causa as qualidades específicas dos motoristas, não seria melhor substituir dois ou três, por informáticos que ponham a funcionar correctamente o programa de colocações? E dispensar o conselheiro e especialista em gramática e língua portuguesa que lhe disse, a um matemático, para se esconder atrás da semântica e das palavras ensaboadas.
Eu disse mantêm-se, não disse manter-se-ão, disse, a propósito dos profes e da sua colocação, o ministro Crato, a armar-se em puto reguila. O presente, e neste caso um presente envenenado, conjugados num futuro frustrado e esquálido.
E assim vamos - não disse iremos - neste mundo idílico, paradisíaco, encostados a uma felicidade de papelão, mas só fingindo que nos encostamos a ela, porque senão o cenário cai, mostra a sua falsidade, e portanto, representamos com uma graça que a maior parte das vezes é desgraça.
Vizinhos distantes do ébola, o vírus que nos ameaça e que se vai aproximando da nossa casa com passos seguros, já nos parece ser normal a ideia daquele atrasado mental que diz ser receita certa para a ameaça pandémica, o abate dos infectados. Começaram, parece, pela cadela daquela enfermeira espanhola chamada excalibur, a cadela não a enfermeira, que, azar dela, da enfermeira e não da cadela, ao retirar as luvas com se protegera no contacto com um infectado, tocou com o látex no rosto e, infelicidade suprema, caiu na ratoeira do vírus e está agora sujeita ao talhe largo da ceifeira final.
E se há uns tempos atrás esta ideia pudesse ser coisa sugerida por um humorista da nossa praça, surge-nos agora de forma séria, como matéria a ter em conta e, discutível, por isso.
No entretanto, cá vamos, com água até aos joelhos, em rios que ontem eram estradas, coisas transitáveis de automóvel, frequentando
módulos transitários quando vamos a tribunal e sofremos a ineficácia do CITIUS, e somos multados com rigor pela brigada de trânsito com mínimos para obter.

The show mast go on.