quarta-feira, setembro 19, 2007

se cola, ri

Bastou um soco mal dado num sérvio qualquer, um gajo de quem ninguém ouviu falar antes e que habla um castelhano deslavado, para que as nossas atenções fossem desviadas do essencial, ou seja, do casal inglês, que no Algarve, num sítio chamado Praia da Luz, há uns quatro meses, perdeu a filha em circunstâncias misteriosas. Ora, o essencial nos dias que antecederam o soco esquisito, era: a chave da Igreja a que o casal tinha acesso; o peluche na mão da progenitora; a mão dada em permanência com quem quer que estivesse ao seu lado; o seu rosto inexpressivo estranhamente igual ao do Michael Jackson (já repararam?); as questões relativas ao ADN; o número de garrafas de vinho que o casal, e os amigos, beberam na fatídica noite; e outras coisas semelhantes.
E o soco veio estragar tudo. Um soco, ainda por cima, maricas… O gesto, tecnicamente falando, é qualquer coisa de desprezível. O mister parecia uma menina a tentar acertar na colega de brincadeira, por ela não a deixar brincar com a boneca preferida. O punho não fez o necessário recuo, de modo a alcançar o fácies sérvio do adversário, com contundência. Não. Nada. Uma coisinha sem pés nem cabeça. Parece, pelo pouco empenho, que ao sargentão bastava tocar no rosto do antagonista. Que coisa parola. A sérvio!
No rugby é que é, caramba. Eu, que não sou nada dado a tretas nacionalistas, fiquei estarrecido com a alma com que os jogadores da selecção cantaram a portuguesa, nos momentos que antecederam os confrontos. Aquilo é que é alma, caramba. Alma até Almeida, na exacta medida em que desafinaram a canção de Alfredo Keill alarvemente. O homem deve ter dado uma data de voltas no túmulo. Os tipos até saltavam, arre. Acho que algumas das lesões de que padeceram no final do jogo, tiveram origem no momento do Hino. Abraços daqueles, partir-me-iam as clavículas, de certeza. Não me admira que um dos jogadores lusos, suturado no final do jogo com oito pontos já não sei em que sítio do corpo, afirmasse tanto orgulho naquela costura. Os oito pontos mais honrosos que conheceu. Fogo. Uma placagem de um ídolo. Que emoção. Que honra. Aquilo é que é luta. Não arremedos de socos mariconços que não atingem ninguém. Comparados com os tipos do rugby, os gajos mais malandros do futebol são umas meninas.
A coisa é tanto mais desigual quando, apesar de andarem oitenta minutos à porrada, no fim da coça, os adversários dos lobos foram ao nosso covil beber umas cervejolas connosco. Quer dizer, com eles. Mas é como se eu lá tivesse estado.
No futebol, tal cumbíbio dava direito a processo sumaríssimo.
Scolari devia ser suspenso. A meio metro de distância, e não acerta?
Para que é que servem aqueles pelos no lábio superior?
Tão macho, tão sargento, e a volta…
Não há pachorra.

segunda-feira, setembro 17, 2007

argu-idos

Li a informação num destes jornais digitais que a net nos põe à mão.
E tomei nota.
É um assunto que está na ordem do dia, debatido até à náusea em tudo o que é jornal, rádio e televisão. Há arguidos ilustres. O casal inglês da Praia da Luz; os fulanos todos do futebol Pinto da Costa incluído; etc.
Os dados dados à estampa (esforcei-me por repetir a palavra dados, e consegui…) são o que são e não sei, por isso, se são coisa em que devemos confiar ou não.
Aqui vão, porém:
Eles dizem que, no final de 2004, um em cada cem portugueses, era arguido num processo judicial qualquer. Um em cada cem. Um por cento.
Que havia 104 969 arguidos no final de 2004. Hoje, por força das notícias que proliferam na nossa imprensa, devem ser muitos mais.
Só no concelho de Lisboa, há 12 150.
5102 no Porto
3085 em Gaia.
É muito arguido, neste país de brandos costumes.
Como curiosidade: em Santa Comba Dão, uma terra que pelos mais diversos motivos me diz muito, há 27,1 em cada mil. Mais ou menos o dobro do resultado verificado na média nacional. E não é o que vai à frente. À frente de Santa Comba, está o Cartaxo, por exemplo.
Arguidos.

sábado, setembro 08, 2007

josé cid adão

José Cid, o conhecido cantor e compositor – já foi mais conhecido do que é hoje, eu sei, mas parece agora estar a ressurgir na popularidade – por qualquer razão que desconheço, tem-se multiplicado em depoimentos curtos sobre este ou aquele assunto, ou em entrevistas mais ou menos de fundo, quer dizer, publicações onde lhe oferecem mais tempo de antena. Recentemente li duas: uma, curta, no Correio da Manhã; e outra, de página inteira, no JN. Desassombrado como creio nunca o ter visto (quer dizer, lido… pelo menos depois da foto, nu em pêlo, com o disco a tapar-lhe as partes íntimas…), com aquele desassombro de quem se está nas tintas para o que as pessoas pensam sobre ele e do que ele pensa, Cid diz o que eu, nem em voz baixa perante os meus botões - singelos companheiros de desabafo - ouso balbuciar, quanto mais usando o megafone dos media.
Importa referir que, goste-se ou não dele quer enquanto cidadão quer como artista, Cid é uma personagem importante da nossa música. Cultivou – ou cultiva – os mais díspares estilos, escreveu centenas de canções que polvilham todos os géneros, do rock sinfónico ao quase pimba; produziu inúmeros artistas, maiores ou menores da nossa música; incomodou os diferentes poderes, antes e depois do 25 de Abril; actuou nos mais variados espaços, com mais ou menos luxo, com orquestra ou sozinho, sentado no seu piano electrónico. Se é certo que escreveu canções onde, apaixonado, declarava que «como o macaco gasta de bananas eu – ele, Cid - gosto de ti» ou outras rabichices do género «na cabana junto à praia», «cai neve em Nova York, faz sol no meu país…», e coisas quejandas, não é menos verdade que integrou o histórico quarteto 1111, por exemplo, e tantos outros projectos que a nossa memória curta vai esvaziando.
Por razão que desconheço, como há pouco dizia, vive uma espécie de ressurreição, uma segunda vida – ou terceira, ou quarta – e, por isso, tornou à rádio – mesmo nas condições em que a música portuguesa, grosso modo, é tratada – às televisões, aos espectáculos e, por força desse regresso que eu daqui saúdo efusivamente, às entrevistas.
Numa delas, questionado sobre o que achava da operação plástica que uma jovem artista nortenha (cantora e actriz) fizera aos seios, encheu-se de brios e, como elefante em loja de porcelanas, declarou alto e bom som, que a rapariga, «em vez de aumentar as mamas – e estou a citar – devia era aumentar a qualidade das suas prestações artísticas».
E não é que eu penso o mesmo? Um dia destes estou a saltar de cavalo e a militar na monarquia.
Daqui, deste cantinho, saúdo o seu regresso – se é que de um regresso se trata – José Cid. Saúdo a coragem do cidadão desassombrado (que falta fazem), e o mérito do artista.