sábado, fevereiro 02, 2008

histórias de camarim, 9

Das memórias do actor Izidoro Ferreira, trago hoje esta história:

‘’Ao chegarmos a Chaves, vamos para nos hospedar num pequeno hotel que há defronte do mercado, e depois de se nos afirmar que havia acomodações para todos, vem novamente a dona da casa dizer-nos que tinha os quartos todos tomados, e por conseguinte que tivéssemos a bondade de sair!
De que procederia tão repentina como estranha mudança? Um cavalheiro da localidade, que nos tinha feito o obséquio de nos acompanhar, é que nos explicou que este procedimento era resultado de ter sabido a dona da casa que éramos actores, e exacta aversão à classe provinha de, em tempos, ter ali recebido uma companhia que, depois de trinta dias de desregrada hospedagem, pretextara que ia dar uma representação numa terra próxima e que no regresso ajustaria contas, e para que não duvidasse ali deixava os seu baús! Passaram dias, semanas e até meses, e a pobre mulher, perdendo as esperanças da volta da companhia, mandou arrombar os baús e encontrou-os cheios de… pedras!
Cumpre aqui declarar para glória nacional que a companhia era espanhola!!!
Corridos de vergonha saímos dali, e fomos hospedar-nos para o Hotel da Ponte… porém eu ia já tão receoso que se repetisse ali a mesma cena que apenas entrei dirigi-me ao dono da casa nos seguintes termos: «Senhor, queremos hospedagem por seis dias… queira dizer-nos já em quanto importa para satisfazermos imediatamente!» Obtive em resposta duas amabilidades próprias duma pessoa de boa educação e fino trato. Apesar disso, quando me foi apresentado o livro, que é de uso nestes hotéis, escrevi: Izidoro Sabino Ferreira, actor e proprietário! ‘’