da RUM
Um dia, há muitos anos, quando a Companhia de Teatro de Braga estava a fazer espectáculos na antiga Casa Penhorista, eu,
acabado de chegar a braga para integrar os quadros desta estrutura, comecei a
frequentar o bar e, por esta via, a Associação Académica da Universidade do
Minho, que vivia paredes meias com a casa de penhores, e o café Estrela, onde
as meninas e senhoras putas de Braga iam beber galões para se aquecerem às mais variadas
horas do dia.
Num sítio interior da Associação Académica,
para lá do bar e demais salões, havia a rádio.
Poucas coisas estavam disponíveis naquele
espaço: uns discos esparsos, giradiscos, pois, umas cadeiras, um microfone e, do
bar, as cervejas frequentes e fresquinhas que, chegadas, empurravam a música
teimosa que teimosamente jorrava sempre à mesma velocidade e, amiúde, tropeçava
nos mesmos vincos viciados do vinil. O emissor já não emissionava, apenas se
ouvia música, a que havia e a que alguém, uma vez por outra levava. E havia o
sonho de um novo estúdio em Santa Tecla, que tornasse a rádio numa coisa séria,
mesmo que independente dos gostos mais prapulares, mais despudoradamente
comerciais.
E assim, enfiado neste caldo, também eu fui
crescendo, entre uma cerveja e uma cabeçada mais vigorosa nas traves curtas do
estúdio na Afonso Henriques, e, pouco tempo depois, nas noites ligadas aos dias
em Santa Tecla, onde uma outra rádio estava a nascer, militante, cultural,
empenhada, imensamente livre.
Nesses estúdios, durante anos, entrevistei
dezenas de pessoas, centenas talvez. De todos os quadrantes politicos,
culturais, académicos.
Assim de
repente, Álvaro Cunhal, Luís Marques Mendes, José Saramago, Sérgio Machado dos
Santos, Luís Novais, Álvaro Santos, Mário Barradas, Carvalho da Silva, José
Walleinstein, Ana Luísa Guimarães, Jorge Palma, Diogo Infante, João Reis,
Fernando Candeias, Rui Madeira, Marina Albuquerque, Amélia Varejão, José Mário
Branco, Mesquita Machado, Jerónimo de Sousa, Manuel Vasques Montálvan, José
Manuel Mendes, Luís Miguel Cintra, Jorge Silva Melo, João Lóio, Francisco
Louçã, Paul Thessyer, José Pedro Gomes, Manuel Alegre. António Feio, Miguel
Guilherme, José Craveirinha, Serge Regianni, Jorge Amado, Manuel António Pina,
Canto e Castro, Isabel de Castro, Maria de Medeiros e tantos tantos mais.
Sexta-feira
tornaremos a encontrar-nos.
Às 15h.
Aqui, nos
noventa e sete ponto cinco. Em Santa Tecla.
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