segunda-feira, abril 09, 2012

enganos...

Qualquer pessoa pode enganar-se. Acontece a qualquer um. Até aos melhores, àqueles de quem não é justo esperar que se enganem.

Mesmo aquele que raramente se engana e nunca tem dúvidas, (ou ao contrário), uma vez por outra, nos intervalos do ‘raramente’ semântico e lexical, pode dar um pontapé na lógica matemática e, lá vai disto, que o mesmo é dizer, lá sai o miserável lapso.

Vitor Gaspar, o excelso ministro das finanças, o homem que está, pelo menos no falar, nos antipodas do Luky Luke, (o gajo que era mais rápido que a própria sombra), naquele seu estilo enrolado, mas um enrolado sensual, de quem está sempre a acordar, a renovar o olhar revigorado sobre o novo dia, assumiu que numa entrevista à RTP, aqui há uns tempos, se enganou, se lapsou, e disse o que não era suposto ter dito. Ou seja, que os dois salários retirados à função pública, afinal de contas, só começarão a ser retomados, em 2015 e não em 2013.

Na verdade, dar entrevistas à RTP não é coisa para meninos. A pressão é muito grande e quando a entrevista é dada por alguém que fala assim tão lentamente, normal será que, quando a frase vai a meio, já o respostador não se lembre de como começou a formular a resposta e, um pouco mais à frente, não se lembre mesmo de qual era a pergunta.

Em resposta a deputados na assembleia da república, e perante o facto consumado da resposta truncada, Gaspar – nome de um dos rês reis magos – lá foi dizendo, dando o braço a torcer, que afinal de contas, mea culpa mea culpa, levara ao menino pousado nas palhinhas, verniz das unhas, em vez de mirra. Mas que o menino não se inquietasse, que a mirra chegaria em dois mil e quinze, ou pelo menos uma parte dela, e que isso era certinho, não há lapso que o atrapalhe, até porque é ano de eleições e, como muito bem se sabe, em ano de eleições, se não houver pão, haverá croissants.

O problema destes enganos, convenhamos, não são os enganos em si. Que a incapacidade é democrática, pode afectar todos, ministros ou não, lentinhos a falar ou despachadotes. O problema – perigoso problema - são os que, dizendo que se enganaram, apenas querem maquilhar a mentira com as tintas do engano. Preferem sofrer as amarguras do tótó, serem o sujeito e o predicado do gozo do pagode, quando na verdade são uns valentes malandros, espertos até vir a mulher da fava rica.

Esses é que são os mais perigosos, porque se escondem da democracia do erro, nas pregas dessa mesma democracia.

E este rei gaspar, ou muito me engano, ou é dessa laia.