quarta-feira, julho 13, 2011

a saúde, o pão, a paz, a habitação, o povo, a liberdade

Cavaco Silva, em viagem até ao Algarve, e a propósito da inauguração de uma nova unidade hospital que apadrinhou, apelou aos privados que participassem na área da saúde sempre que o Estado, manifestamente, nao tivesse capacidade para responder às necessidades.

Esta vontade de alienar serviço e espaço de intervenção, quando se sabe que se há area de intervenção absolutamente fundamental, é precisamente a saúde, mostra o apetite que os privados têm pelo lucro desenfreado, selvagem, pornográfico.

Creio que Cavaco deveria ter dito que, quando o estado não tem capacidade para resolver as questões da saúde portuguesa, deve munir-se das ferramentas precisas para que cumpra esse destino patriótico. Mas Cavaco nunca diria isso a propósito dum território estratégico que desencadeia tantos apetites e salivações.

Há muitos anos atrás, o PSD clamava numa cantiga que, por sinal, ainda é o seu hino, e que curiosamente – sinal irónico dos tempos – se foi escrita por um anónimo, foi composta por Paulo de Carvalho, clamava pela Paz, pelo Pão, pelo Povo e pela Liberdade, enquanto pilares fundamentais da nação que se propunham construír. Era no tempo em que o PSD era social-democrata, um partido de centro-esquerda, que votou favoravelmente a Constituição e visava o socialismo. Como se sabe, a Paz, mormente a paz social, é coisa que já foi e há que tempos; o pão está cada vez mais caro, ainda que agora exista o de centeio, de água, e etc; o povo é qualquer coisa indefenida, onde aparentemente cabem todos na hora de pagar as contas, mas onde apenas alguns partilham o lucro; e a liberdade é uma coisa esbatida, descartável, capricho de uns quantos alienados, com um interesse residual.

Quase ao mesmo temo, na porta ao lado, Sérgio Godinho cantava (e ainda canta) que ‘Só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, a habitação, a
saúde, a educação.’ E acrescentava imediatamente a seguir: 
’Só há liberdade a sério quando houver liberdade de mudar e decidir, quando pertencer ao povo o que o povo produzir.’

A soma das duas cantigas poderia oferecer ao mais indeciso dos cidadãos, o mote para as respostas de que precisamos.

Quando o Estado alienar as conquistas fundamentais e deixar os pilares onde assenta a nossa liberdade, como a liberdade de qualquer povo, em mãos invejosas e desprovidas de sentido social, o melhor mesmo é fechar as portas e fazer o que tantos já apregoam e há que tempos: vender o ultimo dos nossos valores, que não é a saúde, mas a liberdade.