Já sabemos com o que contamos.
Todos os passos, os que são dados em volta e os que nos dirigem para a entrada, estão a ser dados, vertiginosamente, pelo menos para mim que habitualmente ando a passo de caracol, a caminho da privatização absoluta dos bens que, na minha modesta opinião, deveriam ser geridos pelo estado, ou seja por todos nós, através de um processo certo, verdadeiro, consciente, honesto, de delegação de poderes. Mas em vez disso, temos uma coisa viciada a que chamamos eleições democráticas e que consagram politicos para a gestão da coisa pública mais ou menos escandalosamente engajados aos poderes liberais, polvo de tantos tentáculos e tão disseminados, que não percebemos quem são, quem abraçam, e o que pretendem.
Mas tudo se clarifica, se vai clarificando, à medida que os dias passam, cinzentos e medonhos.
A escola é cada vez mais uma coisa a ser gerida, administrada por gente fora da lógica do estado, mandatadas e pagas por outra gente que tem do ensino o objectivo do lucro, quanto mais melhor, mesmo que para isso se seleccionem os alunos, entrem apenas os que podem pagar; ou os que, não podendo, hipotequem o futuro em empréstimos impossíveis de resgatar; arrostar com a propina crescida, propina de pernas longas que indiciam locais secretos dentro de si (cito, de forma vesga e distorcida, Manuel António Pina, o poeta), apenas ao alcance de carteiras abonadas, putas finas olaré, propina apenas adivinhada (na verdade, menos do que isso, basta ver o exemplo de outros países e de outros sistemas educativos que vergaram à ferocidade de outros poderes que agora aqui se manifestam) mais ainda do que esta que o estado – chulamente, já sem aspas - obriga as famílias portuguesas a pagar.
E também a saúde, cada vez mais à mercê dos grupos engenhosamente encavalitados no poder político (que controlam), em politicos que compraram na feira da política, em partidos que subsidiaram, organizações que controlam, lobistas empedernidos, gigolos da coisa pública. Quem puder pagar a saúde que se vai perdendo, que a compre. Os outros, que se lixem.
E a água, que devia ser pertença de todos, e que passará a ser pertença apenas de alguns;
E as energias, extraídas da terra e que a todos deviam pertencer, e que por razões que não se entendem, eu pelo menos não entendo, apenas a uns quantos beneficiam.
E a habitação, mandamento fundamental da liberdade de cada um, uma espécie de nação que apenas a cada um deve dizer respeito, com as suas leis individuais e únicas, espaço e país para ocupar, cada vez mais à mercê da lógica bancária, dos caprichos do spred;
Até a lingua, a lingua portuguesa, pátria cantada por Pessoa, foi vergada à lógica do lucro, unificada à força por sabe-se lá quem, gente – muita dela – engajada a interesses económicos fraticidas, torcida numa tentativa estúpida de ser coisa comum a tantos países, que assim se afastam, ao invés de se reunirem, porque quanto mais diversa, mais rica é a lingua que se fala. Mas vá lá perceber-se isso…
Este é o país que temos. O país que Sócrates deixou a Coelho e que Coelho, com a inclinação própria de todos os da sua espécie, com afã e velocidade ímpares, em oito segundos apenas, já copulou e esmaeceu.
Confesso que por trás de Passos Coelho, reconheço as mãos de uns quantos, cujos vincos não estranho, tantas vezes as vi manipulando - ou tentando - manipular outros tantos títeres.
São esses, e os que, numa camada ainda mais anterior, nos governam, ou estão numa linha mais avançada da governação.
Como dizia recentemente o sociólogo Boaventura Sousa Santos, estará para breve uma subvelação popular. Também estou certo disso. A Assembleia Constituinte deve começar a ser preparada desde já. Para podermos, com o tempo possível, organizar o nosso futuro. Que queremos livre e independente. Senão, anexem-nos a alguém decente, que estaremos certamente melhor do que agora nos prepamos para viver.
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