pieguices
Com o passar dos dias, com o lento percorrer do tempo, as coisas político-administrativas vão ficando mais claras, mais obviamente definidas, menos máscara e mais descarnado rosto, germânica cara merkeliana, a sensualidade mandada às malvas, o prevalescente punho bávaro a dar cartas, que o trunfo não é obviamente copas, o trundo há-de ser ouros, e se for preciso usar-se-ão páus ou espadas empunhadas pelos patrões descarnados que por aí abundam, e na parte mais afiada do longo instrumento, nós, o nosso peito em estado de ‘aflição’.
Não é que as coisas se tenham alterado por aí além neste apiegados últimos dias. As coisas já estavam mais ou menos assim. Só que agora a bota condiz com a perdigota; às mãos do marionetista, associam-se os fios das bandeiras; às vozes os rostos; ao despotismo, os déspotas; aos bigodes mínimos, a bocarra maxima.
A Portugal, país e pessoas, definido que está o dominador, resta-lhe ir sendo. Resta-lhe deixar ir escorrendo o que ainda lhe pertence, dedos e anéis em estertor, e esperar que passe despercebido. Ou, não passando, ir dividindo o poder dos que mandam em si (quer dizer, em nós), dos que têm autoridade, dos que determinam os nossos futuros sombrios, por outros agentes dominantes, ir variando os poderes e esperar que eles nunca se entendam na prepotência, no despotismo, esperando ver cumpridas uma das premissas nacionais, que lembra que ‘enquanto o pau vai e vem, folgam as costas’.
Por isso, na divisão do mal pelas aldeias, vamos dando uma no cravo e outra na ferradura. Estamos algemados à Alemanha (e à França, pois, mas sobretudo à Alemanha que é quem controla o poder financeiro e político – porque económico - europeu) por força dos contratos que celebrámos embalados no sonho de uma europa comunitária, soma de vários estados, numa espécie de frente unida contra a ideia dos estados - também eles unidos - da américa. Mas, por via das dúvidas, também nos entregamos um pouco à China, pelo menos vinte por cento do nosso capital energético; um pouco ao Brasil; um pouco a Angola; um pouco, calcule-se, a Timor, que já se ofereceu para comprar uma parte da nossa dívida; um pouco aos capitalistas nacionais que são, também, representantes de um certo internacionalismo, e por aí adiante. A ideia acho que é esta: quando a coisa der mesmo para o torto, pôr todos aqueles a quem devemos, à pancada, para ver quem é que nos parte mais os dentes, quem é que nos esfarcela mais as costas. E enquanto se degladiam os nossos torturadores, o torcionado descansa.
É, convenhamos, uma estratégia um pouco infantil.
Mas é a que temos…
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