também tu, peter? (de pedro)
O orçamento de estado foi
aprovado ontem, sem espinhas, com umas quantas declarações de voto, ok, mas
nada que faça esmorecer a vontade do poder instalado. O ‘’Rápido e em força
para Angola’’ de antigamente, transformado em qualquer coisa como ‘’rápido e em
força para o empobrecimento geral’’ que é o continente que os tubarões querem
que habitemos colectivamente, enquanto povo. A política está traçada, o rumo é
este mesmo, e não há que duvidar da eficácia do medicamento. Para que o
investimento estrangeiro - alemão principalmente - tenha espaço e vontade de
vingar no solo pátrio, há que baixar a toda a brida o preço da mão de obra
nacional, fazer concorrência aos chineses e aos indianos, e um dia voltaremos a
ser competitivos.
As coisas não são
directamente relacionáveis, mas atrevo-me a contar aqui uma história do foro
privado que pode ilustrar, com alguma boa vontade vossa, o estado a que as
coisas vão chegando.
Há uns tempos atrás,
verifiquei no meu telemovel, a insistência de alguém que me queria contactar.
Tentou vezes sem conta, umas vezes a seguir às outras, (eu sentia desespero no
registo das chamadas não atendidas) sem que eu, por razões que não consigo
lembrar, tivesse, em qualquer dessas tentativas, podido corresponder.
Uns dias passados e a mesma
história: inisitências muitas, em diferentes momentos do dia, e eu, nada.
Até aqui, nada de especial.
A quantos de nós é que já não nos aconteceu isto?
Um dia, alguns dias
volvidos, no meio de uma nova trovoada de tentativas, consegui, finalmente,
atender. Verifiquei que era de Guimarães, a capital da cultura, mais
precisamante da produção cinematográfica, e que se tratava de informação sobre
castings para um filme de Peter Grennaway, cineasta de cuja obra gosto e que
pertence ao grupo dos meus realizadores preferidos. Fiquei contente, claro
está, contente com a produção que se tinha lembrado de mim, ainda que
preocupado, porque o foco da minha atenção está neste momento obcecadamente
dirigido para outro acontecimento cultural. Mas ainda assim, contente. E, claro,
porque se tratava de Peter Greenaway, acedi a fazer os respectivos casting,
ainda que seja avesso a tais exposições. Acontece que, por razões que não
consigo explicar, nunca pude nos breves momentos em que o senhor veio a
Portugal, fazer coincidir as nossas agendas. Mas mesmo não fazendo os castings,
vá lá saber-se porquê, fui escolhido. Eu e mais trezentos, imagino.
Faltava apenas tratar das
questões essenciais: quando se filmava, e em que condições. Finalmente, como a
tantos (ou todos), telefonaram-me a dar-me conta do período de filmagens, muito
bem, e a avisar-me que a produção não tinha orçamento para pagar aos
intérpretes.
Pouco a pouco, a nossa fama
vai correndo mundo.
Havemos de pagar para
trabalhar.
E quem diz o senhor Peter Greenaway,
diz a Mercedes, a Wolksvagen, ou outra multinacional qualquer.
As políticas praticadas vão
ou não vão cumprindo o seu papel?
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