o porco e o gnr
Um dia
destes, um soldado da GNR, no afã de pôr uma criatura foragida na linha,
pontapeou-a perante as câmaras de televisão, quando essa criatura se esquivava,
ligeira, por entre dois perseguidores, humilhando mesmo um deles, que no chão,
não sei se riu se chorou: a câmara da tv seguiu a criatura, abandonando o
perseguidor no chão da derrota sem retorno. Uma espécie de castigo e humilhação
públicos, num momento em que o meliante fugia a quatro pés. Não consta que a
criatura tenha cometido qualquer crime. O crime, se de facto de um crime se
tratava, foi o facto do transporte em que a criatura circulava com outras
criaturas, se ter esbardanado numa curva do caminho. Entre mortos e feridos,
alguns escaparam ilesos, como era o caso daquele ser apavorado. Inocentemente,
ou talvez não, - porque atrás dessa viatura seguiam uns quantos autocarros
cheios de professores para uma manifestação em Lisboa, e que assim sendo,
fizeram marcha atrás e regressaram às suas terras de origem - os gêéneérres
procuraram os sobreviventes e entre um pontapé ou uma palmada correctiva, lá
cobseguiram reunir as tropas.
Mas voltemos
ao pontapé da autoridade.
Importa dizer
que a criatura pontapeada pelo GNR era um porco. A criatura de que falei até
agora, era um porco. Ou uma porca, que a notícia, nesta matéria, era
inexplícita.
Volvidas
horas, uma semana, já se sabe que o senhor agente levou com um processo em cima
e, dependendo do desenrolar do processo, poderá ficar sem 4 meses de salário.
Ou seja, os
inquéritos fazem-se céleres desde que reportem a agressões da autoridade a
porcos. Se for um cidadão cidadão, que se lixe, pode esperar. O cidadão aguenta
a espera. Ai aguenta, aguenta, no dizer de senhor manda chuva de um banco,
ainda por cima com um apelido sui géneris, "o rico", abrenuncia, como
se nós já não soubéssemos. Pois se um sem-abrigo aguenta, ou um porco, porque é
que um cidadão-cidadão não há-de aguentar?
Quem também
tem "o rico" no nome é a britalar, a empresa que controla o negócio
dos parques de estacionamento à superfície em Braga. Um negócio e pêras, e por
várias razões: pelo preço do estacionamento, mais caro que no porto, por
exemplo; pela garantia de aumento do perímetro de vinculacão contratual; porque
terá, para melhor cumprir os seus lucros, uma forca policial a quem não vai
pagar, a zelar pelos seus interesses, ou seja, mão de obra fiscalizadora de
borla; e porque não tem concorrência de ninguém, a não ser os que controlam o
estacionamento subterrâneo, que são outra empresa.
Quem perde? O
cidadão que, de dia, não poderá livremente recorrer aos serviços que a cidade
lhe oferece, no centro da cidade, onde o constrangimento é mais feroz; e o
comércio tradicional que fica a perder, e grandemente, com o acesso
condicionado.
E o que é que
os porcos têm a ver com esta história? Os porcos fugidos do acidente, e as
botas processadas do GNR?
Decidam
vocês, que quem não quer apanhar com um processo, sou eu.
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