segunda-feira, agosto 02, 2010

funchalices 8

Passeando, no meio das pessoas e das diferentes línguas ou modos de falar, os passos levaram-me até à rotunda da autonomia. À minha frente o oceano. À esquerda, a zona velha da cidade, a partir de onde o Funchal começou a tomar forma, dizem-me. À direita, a avenida que vai dar à marina e à zona mais turística da cidade, ao Lido e por aí fora (com graça, lembrei-me do Varadero). Decidi caminhar para a direita, até uma esplanada que já frequentara num dos dias da minha estadia aqui, paredes meias com a Sé.

À volta de um quiosque que de si próprio dizer ter o melhor bolo do caco cá do sítio, estava uma pequena multidão de escuteirinhos. Eu já estranhara a presença inusitada de tantas fardas, criaturinhas em bandos pela cidade fora, desde o aeroporto (e desde o dia em que cheguei) até sítios menos turísticos. Interroguei-me se haveria alguma tradição especialmente implementada na Madeira, algum subsídio para o cultivo de escuteiros...

Ao passar por aquele bando de miúdos - e tinha de passar pelo meio deles que eram um oceano de putos no passeio - olhei-lhes a t-shirt e descobri-lhes a origem: Figueira da Foz. Há sempre um sobressalto quando encontro a minha cidade onde quer que esteja. E, num grito espantado, logo a seguir, uma saudação com nome. Olhei e uma vez mais (como soube imediatamente, mercê da repreensão autorizada do chefe dos escuteirinhos) não reconheci o meu interlocutor, um veterano escuteiro que me olhava de olhos espantados à espera e reconhecimento. Chama-se João Garcia (como o alpinista, disse eu à despedida; como o cigano de braga, disse ele) e foi meu companheiro de turma nos nossos dez-onze anos figueirenses. E lembrámos alguns nomes (eu quase não me lembrei de nenhuma das convocações dele) mas ambos nos detivemos na recordação do professor de português, o professor Gouveia. Um homem extraordinário, recordo-o agora com este álibi que parece perfeito. Um homem que recordo como sendo um professor com estratégia pedagógica que fazia os educandos apaixonar-se pela coisa a estudar. Terá sido com ele, recordo-o, que comecei a fazer os meus teatrinhos. Todas as semanas, uma das aulas era ‘substituída’ por um espectáculo-zinho que um dos grupos da turma organizava. Como a turma estava dividida em quatro grupos, todos os meses cada um dos grupos tinha um espectáculo para apresentar. Um pequeno show de variedades que integrava diferentes linguagens (teatro, jograis, reportagens, música, etc) que começa a ser preparado, mal chegava o intervalo da aula onde apresentávamos o trabalho realizado durante o mês pasado.

Depois destas recordações, despdimo-nos. Ele ia com o seu grupo para a praia e no dia seguinte para o Jamboree que decorre na ilha. E um dia destes havemos de nos encontrar num outro sítio quaquer, mas eu já saberei o seu nome e talvez, entretanto, alguma recordação mais venha habitar a minha memória.