terça-feira, julho 27, 2010

funchalices 4

Veleiros povoam a paisagem. Não lhes sei os tamanhos, apenas lhes posso adivinhar o arcaboiço. Andam de um lado para o outro, ou nem isso. Serão talvez, outros os barcos que eu vejo passar da esquerda para a direita, desiguais àqueles que antes vira navegar da direita para a esquerda. Vejo-os distantes e próximos, não os mesmos, mas outros-mesmos.

Os turistas veteranos, holandeses-espanhóis-alemãos-e-outros vão abandonando os seus quartos e encaminham-se para a piscina, paredes meias com os aposentos, e a meio caminho do mar.

O sol esconde-se por trás desta nebelina quente.

Há mais gente que vem à varanda espreitar, tomar o pequeno-almoço, responder ya a quem pergunta alguma coisa de dentro e fumar cigarros sobre cigarros. Ainda não é uma revolução, mas é um começo.

Ontem à noite havia fado. Não perceberam o que fosse (ou perceberam... eu é que não percebi que perceberam) mas aplaudiram. Com cerimónia, que nunca se sabe se é de bom tom aplaudir quando alguém chora, ou se lamenta.

Há muito fado no Funchal. Muito fado anunciado e sem sotaque, o que é mais triste ainda. O que eu ouvi, não tinha e é desse que falo. Testemunha de um fado sem acento, no meio de tanto ar, tanto mar. Você que inventou a tristeza, ora tenha a fineza, de desinventar, canta o Chico nos meus auriculares, num dia assim – imagino – empalhado como este. Como por acaso – embora não haja acasos – uma vela vermelha florescente invadiu a parcela do meu oceano e calmamente, desapareceu à esquerda do meu olhar. E regresou com uma outra companhia, outra prancha de wind surf, esta amarela e, calmamente, cruzaram-se comigo, com o meu olhar anónimo e longínquo, mas porém, tão próximo e com nome. Adeus.