quarta-feira, julho 28, 2010

funchalices 6

Por aqui, sobe-se muito e desce-se outro tanto. Uma montanha russa com sotaque e chapeuzinho típico na cabeça, mas muito menos que na caricatura que dela sabemos existir. Que o deve haver, ao sotaque, cerrado e risível, mas menos aqui, ou menos audível aqui na cidade grande.

Mas façamos lição: a ilha maior do arquipélago da Madeira tem cerca de 250 mil habitantes e deles, 120 mil só aqui, no Funchal. E se há gente que, vencida pela interioridade, não sabe ainda o que seja essa coisa líquida e azul chamada mar (tão perto mas tão longe), também há gente que não sabe o que é o viver no interior, numa ruralidade e pobreza inacreditável onde só se chega em estado de comício, paredes meias com uma eleição qualquer.

E se a ilha tem cerca de 50 quilómetros de extensão máxima, precisava de mais de três horas de viagem para os percorrer. A tradução do quilómetro em tempo de viagem obedecia a uma regra de tempos de antanho que urgia corrigir. E foi isso que foi feito.

Agora, as pessoas, tal como as águas, andam encanadas. Para não se subir tanto e descer tanto, alberto joão pôs-se a cavar túneis na ilha. Agora anda-se debaixo da terra e uma viagem que demorava três horas, demora agora trinta minutos.

Tal qual as águas das ribeiras. A partir de determinado sítio ou lugar, que para elas significa a partir de determinado momento da sua viagem, as águas são domesticadas, encanadas, correm com margens de pedra, feras amansadas temporariamente, como as enxurradas de fevereiro deste ano demonstram cabalmente. São águas em estado transitório de mansidão. Como os animais enjaulados e treinados para fazer malabarismos que os violentam. Um dia hão-de rebelar-se contra o tratador e a mão que empunha o chicote mas que é a mesma que lhes dá de comer. essa mão será arrancada com um só movimento mandibular.

São cruéis os animais? Ou apenas obedecem à sua natureza?