o respeitinho é muito lindo
Um amigo, sempre
que lhe dou conta do trabalho teatral que vou realizando e da violência que
preciso sofrer para o conseguir realizar, diz-me sempre que seria interessante
que as pessoas soubessem o quanto custa fazê-lo, ao teatro, porque, diz, o
cidadão desinformado imagina que o trabalho do actor é uma coisa simples, tempo
bem passado, duas de treta e está a abrir, cambada de subsídiodependentes,
querem é mama...
Isto, quando não
se pensa que é tudo uma corja, uma grandessíssima pouca vergonha, uns
depravados, capazes dos maiores pecados em cima de um palco, uns drogados em
suma.
Bom, que é
trabalho difícil, ainda não é desta que dou justificação cabal e provo o
contrário do que as pessoas pensam...
Que é uma
actividade onde os valores morais proliferam, isso posso agora prova-lo. E
faço-o, imagine-se, com recurso à igreja católica, para que a prova seja mais
contundente ainda e, pela lógica, abençoada.
Mas antes disso, e
já que estou com a mão na massa, um pequeno intróito sobre a igreja, que afinal
de contas, tenho três minutos de antena.
Sem dúvida que
novos ares sopram na igreja mundial, e na portuguesa por consequência, muito
por força, suponho, da presença e liderança deste novo-velho papa Francisco,
que vem rompendo com algumas das posições menos claras com que a igreja vinha
comunicando. E os sinais não param de surgir, desde intervenções que têm o
condão de colocar no centro da crise que vivemos o sistema capitalista,
alavancado (como agora se diz) por uma banca cuja voracidade não conhece
limites, até à preocupação anunciada pela dignificação humana, pelo ser humano
na sua fragilidade maior, seja na doença pura e simples, seja pela sua especial
fragilidade, seja na pobreza. Da boa, da franciscana…
E os sinais são
tanto mais evidentes, quanto as pessoas e os países se vão abalando nas suas
práticas corriqueiras e as tentam corrigir. Mesmo pela via judiciária, dando
claros sinais de reabilitação. Ainda é, é certo, dentro do grupo dos poderosos,
o mexilhão que se lixa, mas grão a grão enche a galinha o papo.
Veja-se o caso da
violência sexual exercida sobe crianças por pessoas do clero que, ainda por
cima, têm a responsabilidade de zelar por elas e de as protegerem.
O caso do padre Luis
Mendes, vice reitor do seminário menor do fundão (até o nome é uma redundância…
menor…), é paradigmático.
Apesar de ter
merecido o benefício da dúvida por parte do seu superior e bispo, o padre foi
julgado e, perante a prova, condenado. Recorreu, é certo, e o recurso corre nos
tribunais, mas a sentença está dada: dez anos de prisão. O recurso baseia-se em
circunstâncias formais e não na substância da prova.
Uma das
testemunhas, contrariando - talvez - a posição defendida pelo pastor maior da
diocese da guarda, foi a do director espiritual dos meninos seminaristas, um
padre chamado Vitor Fonseca de Sousa que, perante fotos encontradas no
computador pessoal do padre pedófilo, onde ele exibia a sua luxuria em roupa de
mulher, terá testemunhado que aquelas fotos não correspondiam à justificação
apresentada porque, disse, ao contrário do que defendia o padre sentenciado pedófilo,
que seriam fotos extraídas de peças de teatro, argumentou peremptório, que nas
peças de teatro do seminário, as saias nunca foram tão curtas.
É ou não é o
teatro a dar-se ao respeito?
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