a palavra de honra
Os miúdos da
quarta classe, fedelhos ainda, tiveram, na semana passada, uma experiência
inolvidável, uma coisa para mais tarde recordar. Na verdade, nem foi uma, não.
Foram duas. Duas experiências. Por duas vezes, os meninos subiram para as mesmíssimas
camionetas, e ao som do ‘oh senhor condutor ponha o pé no acelerador’’
cumpriram a via sacra festiva do caminho das salas de exame longínquas e, por
duas vezes, foram obrigados a assinar um documento onde garantiam pela sua
honra, que não usavam auxiliares electrónicos - creio que telemóveis, ou lá o
que quer que fosse - na feitura das provas.
Os putos, que
já estavam nervosos, com a honra de putos em risco, pior devem ter ficado.
A questão,
como muito bem disseram as associações de pais e os professores mais atentos, não
estava na jura pela honra, mas nela própria, na honra, ainda por cima num país
de desonrados, a começar pelo próprio ministro.
Peco desculpa
se estou a ofender alguém, mormente o senhor ministro, mas quem prometeu aos
professores - e falo dos professores em concreto, por conhecer mais ou menos
bem essa… narrativa - o que o ministro Crato prometeu, para imediatamente a
seguir, desdizer, quebrar a promessa, faltar ao prometido, vir agora falar de
honra, ainda por cima a miúdos de nove anos, é a cereja no topo do bolo da
parvoíce.
Este pais é
uma anedota, pronto. O que é que e há-de fazer? É a nossa sina, sejam os
ministros feitos de matéria sociológica, económica, artística ou matemática.
Percebo
pouco, ou nada, de pedagogia infantil, concedo. Do exame da quarta classe, que
fiz, (creio que apenas um... ), lembro que íamos à escola maior e, pronto,
estava a coisa feita, o Conde Ferreira no meu caso, mas posso estar errado que
a memória é coisa que está a desaparecer em mim, como o cabelo no meu caso e, já
agora, a honra no ministro. A gente sabia que não podia copiar, que era
proibido, e para isso lá estavam de plantão os professores passeando por entre
as carteiras em fila, carteiras que, creio, nos albergavam aos pares, para que
sentíssemos a tentação mas não tocássemos a maçã. Levávamos a nossa melhor
roupa, nem dormíamos nessa noite e, eu em particular, levava uma caneta de
tinha permanente, coisa nova nas minhas mãos, prenda antecipada, que me fazia
sair da prova com os dedos todos enporcalhados da tinta preta vertida, mas
orgulhosos, os dedos e eu, da prova realizada. Não me lembro de ter sido
obrigado a assinar o que quer que fosse, para lá do cabeçalho das provas, em
letra bem legível, redondinha, como a D. Teresa Ramos denodadamente me ensinou
nos cadernos de duas linhas e como pouco tempo antes ensinara o meu pai a
fazer, que quase fomos contemporâneos na escola primária que frequentámos, o Externato
Infante Santo, na Figueira da Foz.
Sem juras,
mas com a honra de puto imaculada, porque a honra é uma coisa de consciência e,
sem ela ou com ela alterada, fora da norma, seja lá a norma o que que que seja,
não há falta. É a história do livre arbítrio, mas ao contrário.
Do mesmo não
se pode gabar o ministro Crato no que às promessas aos professores diz
respeito.
Na honra não
há propriedade comutativa. Não podemos a nosso bel-prazer, alterar a ordem dos
factores.
O que é, é.
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