segunda-feira, abril 22, 2013

da virgindade


Aqui há uns tempos, (meses, diria), uma jovem brasileira, não sei bem a propósito de quê, ou com que lastro, decidiu colocar em leilão, na internet, a sua virgindade.
Talvez iluminada pelo conceito do empreendedorismo, a moça empreendeu. É certo que este tipo de venda é muito pouco proveitoso, porque a produção é escassa. Cada indivíduo consegue produzir, apenas, um exemplar da sua própria virgindade e, talvez por isso, o produto tenda a ser raro e, por isso, a ficar mais caro. É como uma pintura valiosa: um pintor pinta uma obra e dela não faz cópia. Por isso ela é valiosa, valendo tanto mais conforme as credenciais do pintor e, obvio, da coisa pintada. Imagine-se agora que Pollock, por exemplo, apenas lograra pintar uma obra durante toda a sua vida. Uma única obra. Quanto não valeria essa obra? Uma vida e uma carreira para uma única e exclusiva obra...
Com a moça brasileira foi mais ou menos o mesmo. A rapariga empreendeu e, aparentemente, lucrou. Uma vida inteira a obrar a sua virgindade...
A última vez que ouvi falar da rapariga e do leilão, já a coisa ia nos setecentos e oitenta mil dólares. Entretanto, num programa de televisão, a rapariga, instada a explicar o porquê de tão insólito acto, afirmou que precisava de financiar o seu curso de medicina, que quer concluir em Buenos Aires e, meio a brincar, recebeu (e recusou) em directo a proposta de oito milhões de dólares de um conhecido brasileiro, o vetusto actor porno Kit Bengala.
Graças à sua publicitada virgindade, a moça vem ganhando a vida com produções para a playboy brasileira, com presenças em variados eventos, e por aí fora.
Ingrid, assim se chama a rapariga, filha de pai arquitecto e de mãe dona de casa, gosta de ler filosofia e estar informada àcerca das coisas que o mundo da net tem para oferecer.
Já no Gil Vicente e no Auto da Barca do Inferno, a madame de casa de meninas, Brízida Vaz, valorizando a virgindade, afirma que leva com ela, de passagem para a outra vida, entre outras coisas, tantas, seiscentos virgos postiços... Ou himéns falsos... O que significa que a procura já nesses tempos, era ruidosa...
Hoje a crise tudo aparentemente pode justificar.
That’s all folks.