da virgindade
Aqui
há uns tempos, (meses, diria), uma jovem brasileira, não sei bem a propósito de
quê, ou com que lastro, decidiu colocar em leilão, na internet, a sua
virgindade.
Talvez
iluminada pelo conceito do empreendedorismo, a moça empreendeu. É certo que
este tipo de venda é muito pouco proveitoso, porque a produção é escassa. Cada
indivíduo consegue produzir, apenas, um exemplar da sua própria virgindade e,
talvez por isso, o produto tenda a ser raro e, por isso, a ficar mais caro. É
como uma pintura valiosa: um pintor pinta uma obra e dela não faz cópia. Por
isso ela é valiosa, valendo tanto mais conforme as credenciais do pintor e,
obvio, da coisa pintada. Imagine-se agora que Pollock, por exemplo, apenas
lograra pintar uma obra durante toda a sua vida. Uma única obra. Quanto não
valeria essa obra? Uma vida e uma carreira para uma única e exclusiva obra...
Com
a moça brasileira foi mais ou menos o mesmo. A rapariga empreendeu e,
aparentemente, lucrou. Uma vida inteira a obrar a sua virgindade...
A
última vez que ouvi falar da rapariga e do leilão, já a coisa ia nos setecentos
e oitenta mil dólares. Entretanto, num programa de televisão, a rapariga,
instada a explicar o porquê de tão insólito acto, afirmou que precisava de
financiar o seu curso de medicina, que quer concluir em Buenos Aires e, meio a
brincar, recebeu (e recusou) em directo a proposta de oito milhões de dólares
de um conhecido brasileiro, o vetusto actor porno Kit Bengala.
Graças
à sua publicitada virgindade, a moça vem ganhando a vida com produções para a
playboy brasileira, com presenças em variados eventos, e por aí fora.
Ingrid,
assim se chama a rapariga, filha de pai arquitecto e de mãe dona de casa, gosta
de ler filosofia e estar informada àcerca das coisas que o mundo da net tem
para oferecer.
Já
no Gil Vicente e no Auto da Barca do Inferno, a madame de casa de meninas,
Brízida Vaz, valorizando a virgindade, afirma que leva com ela, de passagem
para a outra vida, entre outras coisas, tantas, seiscentos virgos postiços...
Ou himéns falsos... O que significa que a procura já nesses tempos, era
ruidosa...
Hoje
a crise tudo aparentemente pode justificar.
That’s
all folks.
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