sábado, janeiro 01, 2011

bom ano

Truz truz.

Alguém bate à porta.

Quem é?

2011.

Quem?

2011.

Dois mil e quê?

Dois mil e onze... O ano novo, pá.

O quê? Já?

Ah pois é,

Disse o novo ano, enquanto aguardou que lhe abrissem, com espalhafato, o portão.

E entrou, como entraram os que o entecederam, desta vez com o estigma da crise mais nítido cravado na carne. Uma crise anunciada, tão anunciada que até aguenta medidas anti-crise a mata-cavalo. E com horror, fazendo má cara, aguentamos a injecção, aguentamos e aguentamos, e bico calado. Ou quase. A crise é internacional, dizem-nos, mas que nos vai tramar muito bem tramadinhos, vai, que a coisa adivinha-se difícil, impossível mesmo – porque não dizê-lo - para algumas bolsas mais condicionadas. E estou a lembrar-me, assim de repente, daqueles que vivem de reformas baixas, excessivamente baixas para a dignidade humana e para a honra de um país que as paga tão pequenas e ridículas, sabendo que com aquele dinheiro, que em muitos casos é tudo o que os cidadãos possuem, ninguém sobrevive dignamente; difícil para alguns estudantes que ficarão incapacitados de assumir, para além das pesadas propinas, o seu sustento fora do conforto da casa; difícil para a classe artística, sobretudo os artistas que estão mais dependentes do ganho diário e sem rede que lhes ampara os dias magros que se adivinham... mas o povo até acha que os artistas serão tanto maiores e mais genial a sua obra, conforme a ddureza da fome que pasarem; difícil para a generalidade dos trabalhadores por conta de outrem, à mercê mais um pouco do capricho do patrão, que tem agora mais formas legais para se ver livre daquele que lhe coloca perguntas e com quem, em má hora, assinou contrato, ou daquele outro que, por qualquer razão, deseja ver pelas costas; e tantas outras pessoas que não constam do conhecimento que tenho do mundo que me rodeia, ou não cabem na escassez desta crónica.

O presidente e futuro presidente da república vem chamar a atenção para a pobreza em Portugal. E clama pelos desperdídios em benefício dos que vivem à míngua. Os declarados pobres que passam dificuldades e procuram ajuda nas instituições constituídas. E é pena que, apesar de ser presidente, não possa fazer mais do que eu, que nestes minutos de voz digo o mesmo, se calhar não tão eloquentemente. Mas caramba: ele é o presidente. Ele vive no palácio de Belém. Será que não poderá fazer mais que apontar esta ou aquele insuficiência da governação nacional? E fala dos políticos, dessa classe de malandros sem consciência social, como se ele não lhe pertencesse, como se estivesse acima dela, ele que foi ministro, primeiro-ministro e presidente da republica.

Neste natal que passou, nasceu um menino, diz-se, que daqui a trinta anos começará a tratar-nos das chagas da alma. Mas do que nós precisávamos era que nascesse um menino já homem que nos tratasse, imediatamente, do governo, e fizesse aquilo de que todos eles falam, mas parecem incapazes de fazer. Isso é que era um Natal feliz.

Desejo-vos um novo ano o melhor possível. Que venha com saúde (já sabemos que com taxas moderadoras aumentadas) e escorreito. Pode ser que, ombro com ombro, anda se possa fazer a diferença.