domingo, dezembro 19, 2010

os presidentes deste natal

As eleições presidenciais aproximam-se a passos largos mas, curiosamente, ou talvez não, nada indicia uma lutazinha por mais macia que seja, uma tensãozeca, uma coisa em conflito, poucochinho que seja, mais intrincado ou mais distendido, um arremedo de opiniões em confronto, ideias em discussão, opiniões que divergem. Nem na tv nem fora dela.

Não. Nada.

Não se pressente, tão pouco, desenho que leve a qualquer ideia de campanha eleitoral, mais a mais neste tempo de crise que nos tolhe, que nos apouca, que nos encolhe na nossa incapacidade pequena, que nos fará até, creio bem que sim, a chamar desperdício a tudo o que se gastar em confronto de opiniões, discussão pública, campanha eleitoral.

Ou me engano muito, ou Cavaco passeará, superior, entre os tugas, naquilo que se augurará como uma marcha triunfal, que as urnas se encarregarão de colocar no altar.

E o mais dramático desta luta, ou desta ausência dela, que de dramática não terá nada, é que não se prevê oposição capaz. Não capaz pelas ideias, note-se, mas capaz pela capacidade-qualidade-e-visibilidade de intervenção, de fazer opinião e de a fazer vingar.

Perguntar-se-à até, sobre os nomes e os perfis e as personalidades dos que perseguem a honra de ver o seu nome inscrito nas listas eleitorais. E alguns de nós saberão até o nome de uns quantos. Mas apenas o de uns quantos. E apenas alguns de nós.

A comunicação social também não está interessada, ou não quer, tolerar a possibilidade de qualquer conflito. Pelo menos mais do que a razão que a vitória de Cavaco tolerará.

Contudo, a sua margem é tão grande que é bem possível que se deixe respirar um pouco mehor, esta ou aquela candidatura, num abraço de morte que alguns confundirão com um abraço de conforto democrático.

Mas para Cavaco, sinto-o, o caminho está traçado. A história fornece-lhe essa informação absolutamente. Num segundo mandato, o presidente que se recandidata, arrisca-se a ganhar. Até agora ganhou sempre. E sempre por uma margem superior ao da primeira eleição. Não está escrito, não é lei, mas é assim que acontece.

Só resta esperar que a margem não aumente desta vez. Para mal dos nossos pecados e da nossa frágil democracia. Que também ela não merece grandes afagos, diga-se. Pois que raio de democracia é esta que sufraga um candidato com mais de setenta por cento das intenções de voto, isto a acreditar nas equipas de sondagens. Que também elas são uma fantástica descoberta da democracia.

Não há como sair deste nó.