quarta-feira, outubro 13, 2010

palhaços

Há uns tempos, na Assembleia da Republica, numa discussão que decorreu com um entusiasmo para além da normal querela legislativa, e que envolveu a inefável Maria José Nogueira Pinto, eleita já não sei bem em que força partidária, (creio que pelo PSD, depois de ter sido, anos a fio, deputada pelo CDS e, mesmo, titular de cargos públicos, entre os quais o de ministra, precisamente, por esta força política), e um deputado do PS chamado Ricardo Gonçalves, a troca de palavras chegou ao insulto, chegando a super-tia ora social-democrata a apelidar o socialista de palhaço.

Um dia destes, e aparentemente fazendo uso do epíteto, o senhor deputado afirmou-se, numa intervenção pública de âmbito partidário, em sérias dificuldades na vida. O homem, ou o palhaço nas palavras de Maria José Nogueira Pinto, pedia encarecidamente que a cantina da assembleia da república funcionasse também à hora de jantar porque o que ele ganhava na Assembleia como deputado na Nação, (cerca de três mil e setecentos euros por mês, mais sessenta euros por dia para ajudas de custo, (dormir – comer – e viajar, ele que está deslocado na capital do reino), mal dava para comer.

Que a vida está difícil, já nós o sabíamos. Que vai ficar ainda mais difícil, é coisa que descobriremos brevemente. Que o senhor deputado, a quem Maria José Nogueira Pinto apelidou de palhaço, se queixe que a sua vida está a ficar insuportável, é coisa digna de se dizer na pista de um circo, enquanto um camarada com a cara pintada de branco e roupas largas e berrantes, toca um emocionado serrote musical.

Mas isto de palhaços, parece, é o que está a dar.

No Brasil, um outro palhaço, este realmente palhaço de profissão, nestas últimas eleições, logrou conquistar cerca de um milhão e trezentos mil votos para o partido à frente do qual se candidatou, um partido da super direita que até aí obtinha resultados insignificantes, conseguindo com a sua populridade não apenas eleger-se a si próprio, mas também eleger mais três deputados. Chama-se Tiririka e apenas precisa, agora, de demonstrar, e tem dez dias para o fazer, que sabe ler e escrever o essencial para cumprir o mandato, caso contrário poderá não ocupar o lugar que logrou conquistar nas urnas, ainda que por força de ma popularidade ganha no circuito televisivo e não pelas propostas políticas que (não) apreentou.

Acredito, até pelas notícias que vamos lendo, nomeadamente esta a que me reportei no início desta crónica, que se muitos deputados portugueses tivessem que fazer prova da sua capacidade para ler e escrever, e um pouco mais até, pensar por exemplo, serem honestos, intelectual e eticamente, poderia perfeitamente acontecer que a assembleia da república reduzisse drasticamente a sua composição. Ora uma assembleia que se presta a tamanha especulação é uma coisa ferida. A morte pode demorar, mas ocorrerá, fatalmente, um dia destes.

E, coincidencia, a Reública festeja cem anos. Tempo mais que suficiente pata ter juízo.

NOTA: na net circula o vídeo sobre o parlamento e os parlamentares suecos. Importa ver.