sábado, agosto 21, 2010

fogo!

Nesta altura do ano, em pleno período das férias ditas grandes, o que é notícia recorrente, coisa igual em cada ano que passa, é o fogo. Ou melhor, os fogos.

Naturalmente ateados, ou induzidos por mãos displicentes (até criminosas), os fogos consomem, todos os verões, e sobretudo neste querido mês de Agosto, a floresta que displicentemente não limpámos quando, por lei, creio, o deveríamos ter feito.

A lei tem, porém, alguns senãos.

Quantos portugueses há, que nem sequer sabem que são proprietários de um pedaço de pinhal, coisa de poucos metros, herdado em mil novecentos e troca o passo, sabe-se lá bem onde e de quem...? Ou é possuidor de propriedades rurais mínimas que ainda permanecem em regime de herança indivisa...?

Assim, como é que se pode pedir a alguém que limpe a floresta, a mata ou lá o que é, se ela não existe na cabeça do desconhecido proprietário? E atenção que eu sei do que falo...

Quarta-feira ao chegar a Braga, deparei-me com a solenidade de uma espécie de velório, coisa fúnebre, que era o que a cidade, acinzentada pelos fumos, estava realmente a fazer. Por cima dela, (da cidade, do aglomerado de casas que se vislumbrava ao longe), havia uma espécie de capacete negro que lhe dava céu, um capacete XL pousado na cabeça da cidade, sendo que a cabeça era o corpo todo que ela ostentava, braços e pernas, um capacete real de fumo que coava os poucos raios de sol que ele capacete deixava passar, e com eles a lembrança de dias aquecidos, infernalmente quentes, que um pouco por todo o Minho, as populações estavam a viver.

E como sempre acontece, a repetição é coisa complexa e total, no momento em que, nas matas, os bombeiros arriscam as vidas ao combater com forças desiguais, as chamas que as consomem, nos locais de poder, mormente na comunicação social, os teóricos do incêncio discutem políticas, lavam roupa suja. Muito suja e muita roupa.

Que o problema reside, dizem, entre tantos sítios possíveis, na coordenação, na descoordenação. nos meios, na formação, nos voluntários, nos profissinais, no porder autárquico, no poder central, nos egos que se batem, nos interesses instalados, nos incendiários, na vigilância, no rescaldo, etc etc etc.

Como é que as coisas podem mudar, se tantos e tão fortes são as vontades e os interesses que marcam as agendas e os pontos de vista de quem tem que opinar e regulamentar seja lá o que for? Como é que as coisas podem mudar, e mudar para o certo, se mais que o interesse comum, estão os interesses particulares?

NOTA: de vez em quando, como quem quer pôr água na fogueira, verdadeiros bombeiros dos bombeiros, acalmar as nossas zangas, chegam notícias da detenção de pirómanos. Coincidências?