domingo, outubro 17, 2010

da paz

A minha ignorância é, como provavelmente se sabe de menos apesar de eu - sem humildade - a afirmar em tantas ocasiões, uma coisa enorme, medonha no tamanho e peso. Conheço poucas coisas e as poucas que conheço, conheço mal, pela rama.

Confesso, por exemplo, que não conhecia, nem de nome nem de nada, o senhor que esta semana venceu o prémio Nobel da Paz, um chinês dissidente chamado Liu Xiaobo. Lembro-me dos acontecimentos e das histórias que levaram à sua prisão, e pouco mais.

A academia sueca lá terá as suas ideias. Eles é que têm que decidir. São eles que têm os dossiers bem estudados… Às vezes mal lidos, que só assim é que é possível aparecerem na lista dos galardoados, alguns nomes tenebrosos e de duvidosa experiência pacifista. É certo que a história, e só ela, com o precioso auxílio do tempo (distância fundamental), se encarregará de sublinhar este ou aquele nome, riscar aquele outro, duvidar daquele e, até, porventura, rir-se desabridamente destoutro.

Mas, mesmo sem distância histórica, o que é que significa para a lista de personalidades agraciadas com tal prémio, o nome do penúltimo laureado, o americano Barack Obama, acabadinho de chegar à mesa do poder, recém vencedor de umas eleições, e tão fresco no cargo de presidente dos Estados Unidos? Não provara ainda nada, nada fizera pela paz, mundial ou qualquer outra, com relevo que se visse. Publicamente, o que é que o senhor fizera? Nada! Nicles! Dir-se-à, como se disse, que se tratava de um prémio por antecipação, uma forma esperta de amarrar o presidente americano a um ideário de paz. Tretas, como se sabe e como se tem visto.

Mas há casos mais escandalosos. Na lista consta, espantem-se, o senhor Henry Kissinger, que em 1973, ex-equo com um vietnamita do norte chamado

Le Duc Tho, (que, curiosamente, recusou o prémio… honra lhe seja feita. Terá recusado por causa da companhia?). Como é que o nome de um dos homens que pior terá feito à paz mundial, pode constar desta lista? E Lech Walesa? E Mikhail Gorbachov? E Yasser Arafat? E Shimon Peres?

E ao lado destes – é certo que a história… e volto ao mesmo… com o seu algodão que não engana, ainda não lhes fez o necessário teste – estão os nomes de pacifistas mais ou menos consagrados como Martin Luther King, Madre Teresa de Calcutá ou mesmo Nelson Mandela.

Este chinês, independentemente do mérito que terá ou não terá, ganhou porque, e isto é um supônhamos – como diz o povo – o mundo quer dar um tau-tau à China, país a quem todos devem uma pipa de massa, e a quem pertence, diz-se, uma economia florescente que esmaga todas as outras. A mensagem parece ser clara: amigos amigos, mas políticas à parte. Por muito que economicamente estejamos nas suas mãos, americanos inclusive (ou principalmente) ainda temos muito espaço para esbracejar. Tenham medo, chineses, tenham muito medo.