quinta-feira, dezembro 02, 2010

economias

A crise é a crise. Sabe-se lá o que seja realmente. Conhecem-se vagamente os seus cortornos sensuais. Sabe-se que nos fará emagrecer o orçamento, já maceradamente adelgaçado, no próximo ano. Sabe-se que, pelo menos para os funcionários públicos, provocará um duro revês nos seus vencimentos e, logo, no seu poder de compra. Mas mais que isso, nada! O que é que isso significa na vida das pessoas, nicles.

Eric Cantona, o famoso ex-jogador internacional francês que se destacou, curiosamente, no futebol inglês, o enfant terrible do futebol politicamente correcto da França onde pontificava, por exemplo, Michel Platini, o agora todo-poderoso senhor presidente futebol, convencido que a crise mundial é resultado da manipulação da Banca em seu único benefício e, por isso, que se trata exclusivamente de uma crise financeira, uma coisa a clamar castigo, propõe-nos que façamos uma peregrinação ao nosso banco, ao banco com quem tratalhamos, e levantemos de lá o nosso dinheiro. Privada dos nossos rendimentos amealhados, a banca terá de fazer marcha atrás na sua arrogância ditadora e terá de ter-nos, porventura, em atenção quando tornar a conquistar a nossa confiança.

Isto é o que pensa Cantona, que não consta que tenha neuma inteligência acima da média em matéria financeira...

Mas procedendo assim, acreditando na eficácia desta justiça, levantando o nosso dinheiro, teríamos que investir num sistema qualquer caseiro, um cofre ou um mealheiro seguro, que pusesse a salvo da cobiça alheia as nossas economias. O colchão é chão que já deu uvas.

Não foi a pensar nisso, mas um senhor irlandês inventou o mealheiro que faltava.

(O que prova até onde ir a falta de gosto. Mas isso decidem vocês.)

Como sabemos, a figura mais recuada de mealheiro, configura um porquinho rosado, redondo, onde por uma ranhura íamos introduzindo, na nossa infância (pelo menos na minha), as moedas que íamos ganhando. E essa caixa rosada, normalmente de barro (eu era, e sou, pelintra, não havia orçamento que me levasse além desse material), era uma coisa para partir só quando a necessidade apertava até ao desespero.

Pois este senhor irlandês reinventou o mealheiro-porquinho, mas agora com leitões verdadeiros. A coisa custa 2900. Paga-se metade no acto de encomenda. Depois espera-se um ano ou coisa que o valha e, finalmente, recebe-se em casa o mealheiro em porco genuíno e, nessa ocasião, paga-se a segunda tranche mais os custos de envio. A longa espera deve-se ao facto do senhor, um tipo chamado Collin Hart, ter de esperar que morram leitões de morte natural (ele não mata os bácoros para fazer os mealheiros), para a seguir os embalsamar com a caixa dentro deles, ranhura tradicional e tudo.

Ora, como se percebe, este mealheiro não é para partir. Não dá. O material não permite, o leitão embalsamado não aperte com estrondo, e o capricho fica demasiado caro para tal utilização.

Consta que o senhor irlandês está receber ameaças de morte pela invenção de tal barbaridade.

Mas parece que Eric Cantona também. O que, significando coisas diferentes, quer dizer alguma coisa... Ou não?