quinta-feira, janeiro 08, 2009

previsões

E 2009 começou e (caramba, mau sinal) nem dei por isso. Estava sentado e sentado fiquei. O puf era confortável, desenhava-me a anatomia em conformidade, acomodava-me simpaticamente, e não achei conveniente interromper tamanha comunhão para chegar a uma taça de champanhe, a umas quantas uvas passas, ou outra coisa característica qualquer…
Até porque, verdade seja dita – apesar da brutalidade da afirmação – nada de novo acontece somente porque o relógio dá a volta e regressa a um reconhecido ponto de partida, o mesmo e invariável ponto de partida de todos os anos.
Bom!, de facto, se este ano se mantém o ponto de partida inalterável, já o mesmo não se pode dizer do ponto de chegada… De diferente em relação aos demais anos que entraram, e que diferença, o facto de este ser um ano mais longo (muito, muito, muito mais) acrescentado, como se anuncia, pelo fermento a ciência e dos cientistas, em um segundo. Um segundo. Uma eternidade. Razão para que, este ano, não nos queixarmos de falta de tempo e, por isso, não deixarmos nada por fazer. Que tempo, é coisa que não nos vai faltar. Pronto.
De resto, à parte esta minudência, sobrevivem à hecatombe do reveillon, os mesmos problemas de 2008. Outra coisa, aliás, não era de esperar, lá porque a noite de trinta e um de Dezembro dobrou um cabo de tormentas e se passou a chamar um de Janeiro, não quer dizer que todos os nossos problemas e pequenas obsessões se tenham dissolvido no oxidado dos dias, ou das noites, como qualquer alumínio desnutrido de memória.
As coisas continuam como estavam, não há volta a dar, temos que arrostar com a mesma vida pequenininha e fútil que experimentámos no ano que foi abandonado, se é que ela foi pequenina e fútil. Querem exemplos?:
- a miúda inglesa, Maddie, continua desaparecida, morta para uns, raptada para outros, mas a alimentar as páginas de revistas e jornais e a conta bancária, helás, de umas quantas criaturas. Até o fulano (cm todo o respeito) que investigou o acontecido, apesar de achincalhado pela imprensa inglesa, já escreveu um livro sobre o desaparecimento e, sabe-se, será o candidato à câmara de Olhão pelo pê esse dê;
- a menina Esmeralda continua dividida entre o pai biológico e os pais afectivos, sem que efectivamente se saiba que prejuízos esta disputa irá inscrever no carácter da criança, que desde tão cedo se vê aprendiz de um jogo perverso, boneco de borracha entre vontade de todos a quererem, cobrando a uns o que cobrará em dobro a outro, e aqui a ordem doa factores é arbitrária;
- a Universidade do Minho prova ipsis verbis que é muito mais rentável fechada – luzes apagadas, aquecimento desligado, segurança apoucada – que aberta ao trabalho científico da docência e da investigação. Pelo menos este natal foi assim, e quem sabe se, na encruzilhada da falta de verba, a experiência não se aconselha em outras repetições, referentes a outras festividades e desacelerações académicas; o barril de petróleo continua a oscilar, neste caso a descer, depois de uma primeira metade do ano que passou, em que não parava de subir. Mas há alguém que perceba este sobe e desce e o interprete com sabedoria e, sobretudo, lógica?;
- aparentemente, o que poderá terminar por aqui, é o mega processo da casa pia que parece, finalmente, encaminhar-se para o seu epílogo, não sem que nos mate a todos a desconfiança de que nada mudará, será tudo limpo, apaziguado com uma porrada forte ao inenarrável Bibi, o único sem qualificações sociais para esperar outro resultado que não seja a cadeia;
- Israel trata de limpar os barracões de material bélico, como de tempos a tempos faz o estado americano, o grande inspirador destas limpezas. Como sempre, quem paga a fava destas alucinações são os desgraçados dos palestinianos. Mas a história, pelo que julgo saber, também pode ser contada ao contrário…;
- e finalmente, haverá eleições no torrão pátrio. Três. A dúvida é saber-se se Sócrates encontrará o equilíbrio que parece ter perdido nos últimos tempos, com várias classes profissionais envolvidas numa luta sem quartel contra si e contra o governo que lidera. Se hipotecou algumas reformas na saúde com a demissão de Coreia de Campos, parece não querer desistir da ministra de educação, e isso poder trazer-lhe amargos de boca. Que a política é mesmo assim.
Bom dois mil e nove.
E tenham cuidado com os ferraris: às vezes também colidem.