quinta-feira, dezembro 04, 2008

o congresso vermelho

Aproveitando o feriado da restauração da independência, o partido comunista português realizou o seu congresso – o décimo oitavo da sua vida – e juntou mil e quinhentos delegados no Campo Pequeno, de Lisboa.
Até aqui, nada de especial. Nem a dimensão do congresso, nem a sala escolhida, são merecedoras de enfático ênfase. Todos os partidos com uma dimensão semelhante o fazem, com mais ou menos panache.
Durante três dias, o histórico PCP debateu uma série de documentos que vinham a ser preparados desde Fevereiro, quando – nas palavras do secretário-geral, reafirmado nesta reunião, Jerónimo de Sousa – o congresso começou verdadeiramente a ser preparado, em reuniões exploratórias, com a participação dos militantes, e muitos foram, que se juntaram à discussão e colaboraram com ela, emitindo opinião, estando a favor ou contra as conclusões que, dossier a dossier, iam sendo organizadas.
E aqui, a cantiga já começa a ser diferente da habitual. Por norma, e basta estar um pouco atento à vida partidária, é o secretariado geral (quando não mesmo o presidente ou secretário-geral) dos diferentes partidos, que escolhe aquele ou aqueles - mais o primeiro caso que o segundo - a escrever a estratégia e o plano de acção, assente numas quantas variáveis, da que há-de ser a moção oficial, aquela que dá continuidade ao trabalho, entretanto, efectuado. Com o PCP a coisa não se passa assim, seja esse assim melhor ou pior que o dos demais, não interessa agora. As conclusões, pelo que sei, são afirmadas pelo colectivo, mesmo que saibamos das muitas maneiras de vergar um grupo às vontades de quem quer que seja.
Outra coisa que os distingue, é a organização. Normalmente, que não no PCP, contrata-se uma empresa para empurrar a coisa. Essa empresa, em troca de um cachet gordo, faz tudo: marca a sala, aluga o material, o mobiliário, põe e dispõe, lança os foguetes, apanha as canas, é rei e senhora da festa. No PCP não. Os militantes fazem trabalho gratuito. Passe a redundância, fazem trabalho militante. Amparados pela máquina partidária, (uma coisa que existe em todos os partidos), pelos funcionários que são, eles também, militantes, o PCP organiza tudo, de tudo trata. Até de instalar os delegados que, de modo a poderem participar no momento mais alto da vida do partido, ficam alojados nas casas dos camaradas que vivem na zona onde decorre o congresso, como agora aconteceu, com tantos deles a ficarem em Setúbal e, claro Lisboa.
E no final, é a festa da militância como, uma vez mais, de viu. Depois dos discursos, dos hinos, desmonta-se a barraca. Não há espaço para entrevistas e comentários ao congresso, o que importa é aproveitar a força de mil e quinhentos delegados, três mil braços, e desmontar todo o circo, cadeira a cadeira, mesa a mesa, bandeira a bandeira, pano a pano, que o tempo não está para desperdícios, e este é material para outras organizações e para o próximo congresso. Quais formiguinhas trabalhadoras, os delegados, depois das emoções congressistas, abordam o trabalho manual, braçal, com a disponibilidade e alegria que se viu. Um outro espectáculo, uma outra lição de militância.
Pode-se estar contra muitas das ideias que o velho PCP debita, pode considerar-se fora de moda muito daquele pensamento, mas o que é um facto, é que, para além da força da Festa do Avante – só quem já lá esteve sabe do que estou a falar – o PCP é ainda o partido onde existe, resiste, uma ideia de militância e participação que já não se vê em mais lugar nenhum da sociedade portuguesa.
E é nestes pequenos gestos que ainda se vê, a força do PC.
Mesmo que em próximas eleições, esta militância não se veja traduzida em mais deputados, mais gente eleita para o parlamento europeu, mais vereadores, mais presidentes de câmara, mais presidentes de junta de freguesia.