sábado, setembro 13, 2008

jogos olímpicos

No regresso de férias, trago á memória, em jeito de ruminação intelectual, os acontecimentos recentes típicos da nossa cultura, nos jogos olímpicos de Pequim.
E para recordar um dia em particular: o dia em que Portugal, através de Vanessa Fernandes, gozou a medalha de prata, na prova de triatlo feminino. Nessa ocasião, o presidente do comité olímpico, um tal Vicente Moura, comandante e um mais ou menos presidente perene desta ilustre instituição, (eu sei que não é perene, há eleições e são as diferentes federações que o elegem, mas a verdade é que, desde que me lembro, sempre o vi envolvido no movimento olímpico), apareceu para dizer que se responsabilizava pela preparação física dos atletas, mas não pela sua preparação – no caso, impreparação - cultural e cívica, nem pela sua implícita deseducação.

Quer dizer, abrigado pela medalha de Vanessa Fernandes, qual guarda-chuva de prata, clama que os atletas lusos são mal-educados, uma cambada de deslumbrados, gente que pensa ter cumprido os objectivos só pelo facto de terem conquistado resultados que lhes permitem estar presentes, incapazes de perceber o real significado de uma presença realizada à sombra da bandeira nacional, insensíveis ao embalo da suave ondulação do vento chinês, coisa que eles – pelo menos muitos deles –, rejeitam ou são incapazes de sentir. E di-lo ancorado nas declarações públicas de alguns atletas que tropeçaram das suas dificuldades de comunicação com a imprensa e disseram coisas que, mesmo que sejam verdade, não podem ser ditas. Pelo menos daquela maneira.

Depois, e cinjo-me apenas aos factos, perante a desilusão da prova da quase mais-que-certa-medalhada Naide Gomes, afirmou que não se recanditaria a novo mandato, tristíssimo, entre a espada e a parede, sendo que aqui a espada eram os resultados desportivos que não apareciam, e a parede era o governo a quem terá prometido não sei quantas medalhas. Dias depois, graças ao ouro de Nelson Évora, desdiz o que dissera, que afinal sempre se irá recandidatar, e propõe ao governo um reforço de verbas para a preparação dos próximos jogos.

É o que faz gozar milagres imerecidos, que é o que quase sempre acontece quando algum atleta português consegue ao chegar-se aos lugares do pódio, aqueles que dão direito a medalhas, feitos notáveis que contrariam a nossa importância, tamanho e dimensão. É claro que seremos sempre, e historicamente, mais do que os nove ou dez milhões de compatriotas que nos dão lastro, mas isso não possibilita a massificação de uma actividade, qualquer que ela seja, e só essa massificação leva à excelência. Tudo o resto, é fruto da muita sorte, sem pôr em causa ou desvalorizar o mérito de quem contraria esse destino.

Mas quem atirou as pedras da impreparação sobre os atletas olímpicos portugueses, esqueceu-se dos seus telhados de vidro que estilhaçaram por completo.
E aqui está como uma figura absolutamente secundária do movimento olímpico, – as figuras de relevo deverão, sempre, ser os atletas e apenas eles –, ganhou protagonismo, e agora é alvo do seu próprio cuspo que, inadvertidamente, lançou para o ar.

Afinal, quem é que falou em impreparação?