domingo, dezembro 14, 2008

deputadices

Não é nada que, nós, já não soubéssemos. Toda a gente o sabe… Toda a gente o diz…. Mas o recente episódio da falta, em larga escala, dos deputados portugueses, a uma votação na assembleia da república, é apenas isso, mais um episódio, um mais no imenso rol do pequeno escândalo de que a Assembleia é fértil.
Num primeiro momento – e segundo… e terceiro… – os grupos parlamentares disseram desconhecer quais os deputados faltosos e quais as razões para tanto abstencionismo sem aviso. O que se estranha. Então não há um processo qualquer que permita saber, momento a momento, quem está em falta e quem não está? Não é assim que se passa em todos os sítios, públicos ou não?
No grupo parlamentar do PSD, havia, pelo menos, 30 ausências contabilizadas: aqueles que nem sequer puseram os pés, naquela sexta-feira, véspera de fim-de-semana prolongado, na assembleia e mais uns quantos (dez?), que foram para lá de manhãzinha, assinaram o ponto, e partiram contentes da vida, a gozar o primeiro (extraordinário) de quatro dias de férias. Mas havia-os, também, no grupo parlamentar do PS…
Entre os deputados, há, diz-se, algumas trutas. Tantas, que o melhor é que ninguém diga quem faltou, que ninguém dê com a língua nos dentes.
De entre as trutas faltosas, uma há que dá mais nas vistas, por muitas razões, e, certamente, por mais esta. Pode até ser que esta falta seja coisa nunca vista no seu curriculum parlamentar, uma nódoa solitária em tanto tecido alvíssimo… Mas é como se diz: no melhor pano cai a nódoa, seja ele seda, veludo, damasco ou qualquer outro. Estou a referir-me a Pedro Santana Lopes. Fui consultar o blogue do ilustre deputado e lá estava, preto no brando, a justificação para a faltita, e, no mesmo post, evidentemente, a sua plena assumpção: tinha estado, na véspera – ou seja, na quinta à noite – numa sessão evocativa da memória de Sá Carneiro. Ora, como a sessão foi no Porto… Um outro deputado social democrata, um Qualquer Coisa Neto, esteve igualmente no Porto, mas num jantar do Boavista, ou seja, justificou, a fazer trabalho político, e declarou que era desumano ter-se violentado e obrigado a zarpar para Lisboa, para a votaçãozinha matinal de sexta.
Mas o que é mais expressivo no post de Santana, é o azedume, o veneno, que manifestamente escorre das palavras do ex-secretário de estado da cultura, ex-presidente do Sporting, ex-presidente da câmara da figueira, ex-presidente da câmara de Lisboa; ex presidente do PSD; ex-primeiro-ministro, ex-presidente da bancada social democrata; ex-candidato em muitas ocasiões a liderança do PSD, e futuro candidato a presidente da câmara de Lisboa, perante a opinião de Marcelo Rebelo de Sousa a quem carinhosamente chama «o comentador». Se alguma vez estas duas personalidades estiveram de acordo, e estiveram, esse foi um tempo que já lá vai. Agora tê-mo-los firmemente inimigos figadais, que não escondem as divergências, antes as manifestam e as criam, mesmo que, por capricho do destino, as não tenham como coisa evidente.
Num país assim, muita coisa tem que mudar. E tem que mudar, começando pelos deputados, (grosso modo, pelos políticos), se efectivamente querem merecer a nossa confiança.
Mas eu creio que já há muito que deixaram de querer tal coisa. A nossa confiança é um capricho que eles dispensam muito bem. O que não dispensam é o lugarzito de deputado… É que assim, são gente importante lá na terra deles. Mesmo que ganhem «pouco».