terça-feira, janeiro 20, 2009

dos animais

Eu seja ceguinho. Tenho fotografias a comprovar o que digo: as galinhas da minha vizinha andaram, pelo menos durante um bom par de horas, completamente doidas naquele fim de manhã, e mesmo ao longo da tarde. Por muito que entretanto se tivessem habituado, no que é possível alguém habituar-se, àquele chão e àquele material, diferente de tudo o que entretanto já se tenha experimentado, as galinhas olhavam à volta e, pata a pata, lá foram arriscando um passito aqui, uma escavadela ali, até tratarem a neve tu cá tu lá, e descobrirem o que bicar por baixo daquele branco frio que nunca haviam sequer experimentado. Durante aquele primeiro par de horas que foi o tempo que durou a novidade, as galinhas desorientaram-se, a minha vizinha também, de máquina fotográfica em punho, a registar para a posteridade – que é uma coisa que em braga, pelo menos, dura uma vintena de anos – a nova paisagem em que se inscrevia, como coisa nova, a casa, as árvores, as couves, as galinhas atarantadas e a dona zeladora de memórias frias.
A neve que caiu em Braga, por muito pouca que tenha sido, foi a surpresa que as mensagens de Sócrates e Cavaco não continham, a novidade que os mais novos nunca lograram presenciar nas ruas que frequentam, coisa de outras paragens e latitudes, paisagem de férias finas, que se vêm nas revistas, e que alguns, felizmente, ainda podem ir experimentando.
As galinhas ficaram atordoadas com a novidade, tal como o elefante de José Saramago, salvo seja, no caminho de Lisboa para Espanha, e de lá para a Áustria, como tão bem se lê na Viagem por ele descrita. Como para ele - e para o seu tratador - foi novidade a neve que lhe esbranquiçou o lombo XXL, e que o fez perigar em inúmeras ocasiões.
E já que estamos em maré, e a falar de animais, lugar, antes de fechar esta croniqueta desinteressante, para referir um outro bicho português, senão no BI, pelo menos nos genes longínquos, e que pode ser o animal adoptado por Obama, e que terá cama e roupa lavada na Casa Branca. É que o eleito presidente dos EUA, cuja tomada de posse decorreu à bocado, terá escolhido um cão de água português, para oferecer às suas filhas. Cão esse, que terá, hoje mesmo, igualmente, tomado posse. Consta que o cão de água português tem nos seus genes a fidelidade como matriz inquebrantável e uma capacidade incrível para nadar velozmente, graças a umas membranas que possui nas patas e que fazem dele uma espécie de descendente da Atlântida. Isto para lá daquilo que é suposto um cão ter, pelo menos no contacto com crianças: ser brincalhão e, pasme-se, beijoqueiro.
E para acabar poeticamente, quero postar aqui duas perguntas de Pablo Neruda, insertas no seu Livro das Perguntas, uma oferta de natal que agora me chegou às mãos:
Como se chama o pássaro amarelo que enche o ninho de limões?
E, quantas abelhas tem o dia?