quarta-feira, julho 04, 2007

Sentimo-nos mais velhos, na exacta proporção dos amigos que vamos perdendo. Mesmo os distantes e desconhecidos. Li isto há tanto tempo e é sempre desta frase que me lembro, quando alguém me conta a morte de alguém.
E uma vez mais, é precisamente esse texto que me vem à cabeça, numa sensação de alguém tédio, no momento em que, clicando a TV, sei que morreu Henrique Viana.
Não que fosse seu amigo, daqueles a quem telefonamos ou a quem recorremos num momento mais difícil. Nem sequer o conhecia pessoalmente. Nunca nos cruzámos em nenhum trabalho. Nem em nenhuma mesa de restaurante. Mas eu via-o, amiúde, na sua oficina. Nunca no teatro. Mas no cinema, sim, e principalmente, na televisão. E a TV dá-nos a sensação de conhecermos profundamente alguém, a fomos acompanhando ao longo de muito tempo, no anonimato das nossas casas. E isso aconteceu com este actor, hoje falecido. Não sendo seu amigo, ou sequer seu conhecido, era como se o fosse realmente.
Ao desaparecer um actor com o seu peso, sentimos que perdemos algo que vai para além dele, da sua dimensão humana, da sua presença, do seu talento. Perdemos um pedaço das nossas vidas. Como uma pequena mão, com que acariciávamos o cérebro.