sábado, junho 16, 2007

Jamais, jamais

O Estado anda em bolandas a tentar descobrir razões que determinem de forma inquestionável, onde deve ser construído o novo aeroporto, o tal novo equipamento inadiável em função do esgotamento de soluções do velho aeroporto da Portela. A discussão era, basicamente, e se bem se lembram, se a norte do Tejo, ou se a sul do rio que desagua em Lisboa. Aparentemente, por esta ou por aquela razão, o governo estaria já decidido a optar pela OTA, uma região que não sei onde fica, a norte de Lisboa, acho, numa zona de terrenos irregulares, pantanosos até, contra a opinião de alguns, que defendiam a zona sul, por razões variadas e interesses adivinhados. Na verdade, os interesses instalados, adivinha-se, estão repartidos pelas duas zonas, isso já todos percebemos, com vantagens neste ou naquele aspecto, e desvantagens em outros tantos itens. O somatório dos prós e dos contras é que falta realizar, e a argumentação tem-se dividido por esta ou por aquela outra opção, conforme os interesses particulares (político-partidários, até) em questão, e jogados com a falsa parcimónia que a desfaçatez obriga.
Esta discussão conheceu agora uma reviravolta brutal, digna dos maiores contorcionistas, com o aparecimento de uma nova opção: desta feita, Alcochete, ali mesmo ao lado de outras opções descartadas, paredes-meias com a criação de gado bovino e com as festas do barrete verde, e que ficam sempre bem aos olhos de quem vem, pelo céu, a chegar.

E enquanto a discussão se encarniça, um estudo realizado recentemente e publicado, ainda que parcialmente, num jornal nacional, dava-nos conta da existência de cerca de quinhentos mil portugueses que, a ser verdadeiro e sério o estudo, sofrem de disfunções mentais várias.
Ou seja: mais de meio milhão de portugueses está maluquinho ou a caminho, e uma parte deles, de certeza, por causa da discussão sobre a OTA ou sobre Rio Frio, ou sobre o Poceirão, ou sobre Alcochete. A malta, com tantas indecisões, passa-se da tola. Ainda mais do que habitualmente.
O que mudou tão radicalmente de há umas semanas para cá, para que esta nova decisão mande para o item dos doentes mentais lusos, mais uma data de portugas abalados com estas águas estagnadas a que agora estão sujeitos durante mais seis meses? A candidatura de António Costa à Câmara Municipal de Lisboa. O homem, que é, recorde-se, o candidato com mais possibilidades de vitória nestas eleições autárquicas, já não sabia para onde se virar, a um mês de eleições. Um mês de suplício de que agora o governo, qual sétimo de cavalaria em seu socorro, o livra. E percebe-se, não? O que é que é mais importante? Um aeroporto? Qual quê! O que mais importa, são as eleições. O mais importante, é o logro dos eleitores.
Quando é que o bem público, a discussão séria, razoável, prevalece sobre o interesse particular?
Jamais, jamais (em francês).