sexta-feira, maio 25, 2007

preso por ter cão

O povo é soberano, já aqui o disse por variadíssimas razões, e reafirmo-o. E sábio. Usa expressões que denotam uma sapiência secular feita de experiências em barda, que não são nada despiciendas. Uma das expressões que o povo mais utiliza, até mesmo quando porventura não deve, é o velho ditado «preso por ter cão, preso por não o ter», quando quer dizer que as alternativas que restam a alguém que tem de decidir sobre uma qualquer matéria, levam ao mesmo resultado, ou a resultados semelhantes, cujas diferenças, portanto, optando por uma ou outra saída, não são significativas.
Ao português José Mourinho, a expressão assenta agora que nem uma luva, ou que nem uma pele, e mais ainda quando, retirada do contexto especulativo em que ela é empregada normalmente, ilustra a história acontecida verdadeiramente ao treinador português emigrante em Londres e que é considerado como sendo um dos melhor apetrechados do mundo.
Estava o «português pouco suave» setubalense numa cerimónia qualquer, quando o telefone tocou, trrrrim trrrrim, ele atendeu, tá lá?, e do outro lado a voz da mulher, mulher-esposa, aflita, oh Zé anda-te imborra (imagino que a senhora seja e Setúbal) que estão aqui um tipos da bófia e querrem levarr a nossa leia, a nossa cachorra de quarrentena. O Zé passou-se. Meteu-se no pó-pó e foi a caça dos polícias ingleses, com o objectivo de lhes dar um valente tau-táu, pela afronta que eles ousavam fazer à sua família, no seu próprio ninho. E que outra solução restava ao nosso emigrante senão partir para a violência? Se o não fizesse, o cão era levado; fazendo-o, quem se arriscava a ir de quarentena era ele, herói intrépido. Decidido, deu o coiro ao manifesto, e arriscou soltar a bicha, livrando-a da prisão e das vacinas que terá querido evitar à amiguinha canídea. Consta que, algumas horas mais tarde, terá pago uma coima e saído para o limbo da civilidade, enfrentando um batalhão de jornalistas que queriam saber novidades da experiência. José lá lhes respondeu, que a bicha tinha ido de férias para Saint Tropez, (mais uma tropelia do Zé) e a coisa ficou por aqui.
Do cão, não se soube mais nada, até que apareceu ao colo da dona, Gerrrtrudes, no aeroporto de Lisboa, rodeadas de capangas.
Afinal a outra expressão conhecida, que diz que «notícia não é o cão morder um homem, mas um homem morder no cão», mesmo não se tendo verificado neste caso, colhe igualmente. Notícia em Inglaterra, de primeira página e com honras de transmissão televisiva, é José libertar o seu cão, e ir ele preso, não exactamente de quarentena, como ameaçavam os polícias ingleses fazer ao monte de pulgas que o treinador português gosta de ter à porta de casa, mas por um par de horas experimentar o conforto dos calabouços londrinos.
Para além disso, o Zé lá ficou com a taça.
Esta expressão também é conhecido, não é?