segunda-feira, julho 17, 2006


D. Filipa de Lencastre, paz à sua alma, moreu há uns anos atrás, 19 de julho como há-de tornar a ser, no ano de 1415.
E que Portugal era o que Filipa deixava?
Bom, antes dela chegar, Portugal era um país arredado do mundo civilizado, qual chá qual carapuça, ninguém por aqui sabia bem o que era isso, aqui combatia-se, lutava-se pela independência contra Castela, contra a ideia de hegemonização da Península.
Até que, estabelecida a independência nacional, com as fronteiras vigorosamente desenhadas e defendidas, o Rei João, o primeiro a chamar-se assim entre todos os reis já havidos no reino de Portugal, resolve casar. Escolhe a esposa entre os da casta de Lencaster e lá vem a noiva, imaculada, bem-educada, talvez um pouco enjoada com os solavancos da viagem, e estranha este sítio. Mas pouco a pouco a mulher vai fazendo valer as suas ideias e dá origem a uma autêntica revolução nos costumes da época. Por exemplo, sabe-se que a vida na corte era muito liberal. No que toca à carne, por exemplo, ao pecado da luxúria e, logo, ao sexo. E isso desagradava muito a D. Filipa de Lencastre, educada religiosamente. E a primeira coisa que fez foi dar rédea curta ao marido que, à primeira escapadela, conheceria o sabor amargo do chicote real nas mãos da esposa e, diz-se, não mais tornaria. E como ele, todos os outros da corte, homens livres, mãos desocupadas das espadas, ocupadas agora a palpar os rabos das cortesãs e a levá-las para trás das tapeçarias, e a fazer filhos destemperados, e a não cuidar deles, a corte que o fizesse, que o passatempo preferido da corte era copular e quem é que é capaz de os censurar?
Filipa de Lencastre resolveu casar tudo e todos, realizou – para tornar os bons costumes coisa sólida – mais de 300 casamentos entre os seus, ou seja entre os da corte e castigava quem ousava desafiar a ordem estabelecida. Enfim, uma seca.
Morreu em 1415.
Em Portugal deve ter-se suspirado de alívio, Deus me perdoe.