sexta-feira, junho 23, 2006

«Jerónimo continua louco»


Que era preciso conquistar terras aos índios, a todos os índios, aos Sioux, aos Apaches, aos Cherokee, e a todos as outras tribos que mantinham com a terra uma relação de espaço vazio, quase espaço desaproveitado - pelo menos na perspectiva dos colonos brancos, que caminhavam para oeste, à procura da terra que escasseava no outro lado da américa ainda assim selvagem, mas um pouco mais domesticada…
Que era preciso avançar, retirar aos selvagens a terra que tinham a mais, tomá-la de assalto, mesmo que os argumentos da tomada fossem os paus de fogo que soltavam chumbo sobre os corpos avermelhados dos índios…
Que era preciso fechá-los em reservas, uma espécie de jardim zoológico onde chegava tudo, carne e peixe, peles e roupas, e onde os selvagens viveriam numa espécie de montra, mas sobretudo, onde não chateariam os brancos asseados que lhes tomaram as terras.
Que era preciso organizar uma força que, colectivamente, garantisse a segurança de todos os brancos que avançavam, aventureiros, rumo ao oeste selvagem, e que pela força fizéssem os índios assinar os tratados de paz que lhes fossem sendo estendidos.
Que era preciso organizar uma força de cavalaria capaz de correr atrás deles, encurtar-lhes os caminhos, tirar-lhes a longa rédea a que estavam habituados…
Que era preciso combatê-los, exterminá-los até, sem que o mundo desse por isso. E mesmo que dessem…
Num dia assim, 23 de junho de 1876, a força de cavalaria do General George Custer, um dos mais importantes generais americanos, um dos mais conceituados e temidos pelos índios, era massacrado pelos nativos Sioux, na batalha de Little Big Horn, no estado de Montana, nos EUA. Durante uns tempos, os índios puderam respirar de alívio.
Jerónimo, por uns tempos, foi capaz de sorrir.
No poema A Terra Sem Vida, T. S. Eliot, ironicamente, afirma que «Jerónimo continua louco».