quarta-feira, maio 24, 2006

A novela recomeçou, já há dois anos foi a mesma coisa, meia bola e força, o futebol torna a ser uma espécie de Katrina, (e o mundo inteiro - Portugal sobretudo - uma Nova Orleães desdiquetada), que encorpado e sôfrego, lamacento e caudaloso, galga as margens que lhe deveriam tolher os movimentos exorbitados e a grandiosidade sem razão, e inunda a vida portuguesa deixando-nos, ou sem vida (afogados nos hectolitros de tinta que hão-de jorrar) ou encharcados até aos ossos, sendo que os ossos são a coisa mais íntima e mais interior que há em nós.
E com o futebol, já se sabe, chega novamente a praga das bandeiras, quilómetros de pano tingido a ondular ao vento, nas varandas e janelas deste país.
E chega a pichagem a pedido do seleccionador, enquanto forma de apoio aos jogadores que representarão Portugal no campeonato do mundo da Alemanha.
E por momentos esquecemos o preço do combustível, a lista de espera para cirurgias nos hospitais portugueses, o desemprego, o nível de vida cada vez mais inflacionado, o estado da coisa cultural nacional, etc.
Mas o circo tem de continuar. Quando o pão falta na mesa portuguesa e as laranjas são coisa demasiado ácida para espremer, que venham os palhaços (malabaristas da bola, atletas do surf popular) cavalgar a onda.
Feliz alienação.