quarta-feira, julho 12, 2006

visto pela tv

Dir-se-à que a coisa se proporcionou. As câmaras da televisão estavam lá… o ambiente estava criado… a festa feita… foi só ligar o botãozinho…
Por isso, o país inteiro, através da RTP-1, serviço público pois, pôde assistir à festa que uma selecção de futebol (organizada por uma federação de futebol, assim dita porque congrega uma série de associações) que esteve presente num campeonato do mundo realizado na Alemanha.
Milhares de pessoas esperaram-na nas ruas de Lisboa, acompanharam-na no percurso do aeroporto até ao estádio. Os jogadores e demais comitiva, em êxtase, fizeram a festa que normalmente se faz em ambientes mais discretos, como normalmente acontece em qualquer danceteria do país, depois de uma determinada hora e algum álcool depois.
À hora de almoço e enquanto comia uma picanha no carvão, confesso que nunca tinha visto.
Mas pronto.
Num repente, foi muito bonito, enternecedor até, ver os jogadores dessa tal selecção pegar nos violinos dos músicos e simular play-backs – os músicos estavam à rasca porque, o que para os jogadores tinha pouco ou nenhum significado, eram apenas adereços daquela fantasia, para os músicos significava o seu ganha pão – ou, arrastados não se sabe bem porque energia, entrar na brincadeira do combóinho, eu sou o maquinista e tu segues atrás de mim, uuuu-uuuu, apita o comboio, aí vamos nós relvado fora, com garbo, que o país está a assistir e quanto mais espalhafatosa for a comemoração, maior é o sucesso.
Ou seja: o país reduzido ao bulício – faz de conta - das três da manhã na festa popular abrilhantada pelo grupo de variedades LEALDADE, mas com câmaras de TV e numa discoteca do tamanho de um estádio de futebol, mesmo que apenas um quinto cheio.
Não valemos mais que a alegria por um quarto lugar. Trinta ou quarenta pessoas exuberantes que talvez merecessem mais que a exposição que tiveram, talvez pudessem ter sido mais protegidas porque, como sabemos, em euforia, somos capazes do que há de pior em nós.
Festas como aquelas sempre existiram, com mais ou menos espalhafato.
Talvez que o país seja um pouco maior que aquilo a que, infelizmente, assistimos.
Talvez seja a televisão que o faz cada vez mais pequenino e atarracado.