Notas de Viagem I
O miúdo estava à espera, sentado numa cadeira, ao lado da hospedeira que fazia a recepção dos bilhetes, à entrada do autocarro que levaria os passageiros do voo TAP 1984 de Lisboa para o Porto. Estava atrasada a viagem. O miúdo impacientava-se. Abanava a perna, nervoso. No colo, um jornal desportivo dentro de um outro que titulava «MPLA». De vez em quando a mulher falava-lhe e ele abria o sorriso. Os restantes passageiros iam passando e, finalmente, passada esta última fronteira, o miúdo desceu com a funcionária, entrou no autocarro, e fechou-se um pouco mais contra um dos varões verticais. A mulher falou-lhe: está quase. O rapaz sorriu-lhe, em resposta. Era um rapazinho muito bonito, simpático, com o rosto adolescente, brilhante, contraído, de maturidade precoce. Escondia a ansiedade como se lhe estivesse vedado vivê-la. Claramente, vinha de Angola. Fazia escala em Lisboa. Ia para o Porto. E tinha, soube-o mais tarde, duas razões para estar ansioso. Trazia dois (a)braços nervosos para entregar e receber.
Tornei a vê-lo, exultante, junto ao tapete rolante que ia trazendo as bagagens. Aí já abraçado a um outro rapaz mais velho, vestido com uma imensa camisola, toda ela a bandeira de Angola. Imaginei-os irmãos reencontrados, felizes no abraço impossível durante algum tempo.
Mais tarde tornei a encontrá-lo no gabinete de reclamação de bagagens. O rapaz estava inconsolável. Que queria tornar. Que tinha perdido a felicidade. Onde é que estava a sua mala? E o irmão respondia-lhe, restaurando-lhe o sorriso: não digas isso que estamos no mundial, mano.
Era isso. Angola garantira lugar, pela primeira vez na sua história, num campeonato mundial de futebol. Por muitas malas que lhe não entregassem, os dois rapazes tinham duas razões demasiado fortes para perder a felicidade.
Tornei a vê-lo, exultante, junto ao tapete rolante que ia trazendo as bagagens. Aí já abraçado a um outro rapaz mais velho, vestido com uma imensa camisola, toda ela a bandeira de Angola. Imaginei-os irmãos reencontrados, felizes no abraço impossível durante algum tempo.
Mais tarde tornei a encontrá-lo no gabinete de reclamação de bagagens. O rapaz estava inconsolável. Que queria tornar. Que tinha perdido a felicidade. Onde é que estava a sua mala? E o irmão respondia-lhe, restaurando-lhe o sorriso: não digas isso que estamos no mundial, mano.
Era isso. Angola garantira lugar, pela primeira vez na sua história, num campeonato mundial de futebol. Por muitas malas que lhe não entregassem, os dois rapazes tinham duas razões demasiado fortes para perder a felicidade.
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