quarta-feira, fevereiro 05, 2014

o respeitinho é muito lindo

Um amigo, sempre que lhe dou conta do trabalho teatral que vou realizando e da violência que preciso sofrer para o conseguir realizar, diz-me sempre que seria interessante que as pessoas soubessem o quanto custa fazê-lo, ao teatro, porque, diz, o cidadão desinformado imagina que o trabalho do actor é uma coisa simples, tempo bem passado, duas de treta e está a abrir, cambada de subsídiodependentes, querem é mama...
Isto, quando não se pensa que é tudo uma corja, uma grandessíssima pouca vergonha, uns depravados, capazes dos maiores pecados em cima de um palco, uns drogados em suma.
Bom, que é trabalho difícil, ainda não é desta que dou justificação cabal e provo o contrário do que as pessoas pensam...
Que é uma actividade onde os valores morais proliferam, isso posso agora prova-lo. E faço-o, imagine-se, com recurso à igreja católica, para que a prova seja mais contundente ainda e, pela lógica, abençoada.
Mas antes disso, e já que estou com a mão na massa, um pequeno intróito sobre a igreja, que afinal de contas, tenho três minutos de antena.
Sem dúvida que novos ares sopram na igreja mundial, e na portuguesa por consequência, muito por força, suponho, da presença e liderança deste novo-velho papa Francisco, que vem rompendo com algumas das posições menos claras com que a igreja vinha comunicando. E os sinais não param de surgir, desde intervenções que têm o condão de colocar no centro da crise que vivemos o sistema capitalista, alavancado (como agora se diz) por uma banca cuja voracidade não conhece limites, até à preocupação anunciada pela dignificação humana, pelo ser humano na sua fragilidade maior, seja na doença pura e simples, seja pela sua especial fragilidade, seja na pobreza. Da boa, da franciscana…
E os sinais são tanto mais evidentes, quanto as pessoas e os países se vão abalando nas suas práticas corriqueiras e as tentam corrigir. Mesmo pela via judiciária, dando claros sinais de reabilitação. Ainda é, é certo, dentro do grupo dos poderosos, o mexilhão que se lixa, mas grão a grão enche a galinha o papo.
Veja-se o caso da violência sexual exercida sobe crianças por pessoas do clero que, ainda por cima, têm a responsabilidade de zelar por elas e de as protegerem.
O caso do padre Luis Mendes, vice reitor do seminário menor do fundão (até o nome é uma redundância… menor…), é paradigmático.
Apesar de ter merecido o benefício da dúvida por parte do seu superior e bispo, o padre foi julgado e, perante a prova, condenado. Recorreu, é certo, e o recurso corre nos tribunais, mas a sentença está dada: dez anos de prisão. O recurso baseia-se em circunstâncias formais e não na substância da prova.
Uma das testemunhas, contrariando - talvez - a posição defendida pelo pastor maior da diocese da guarda, foi a do director espiritual dos meninos seminaristas, um padre chamado Vitor Fonseca de Sousa que, perante fotos encontradas no computador pessoal do padre pedófilo, onde ele exibia a sua luxuria em roupa de mulher, terá testemunhado que aquelas fotos não correspondiam à justificação apresentada porque, disse, ao contrário do que defendia o padre sentenciado pedófilo, que seriam fotos extraídas de peças de teatro, argumentou peremptório, que nas peças de teatro do seminário, as saias nunca foram tão curtas.

É ou não é o teatro a dar-se ao respeito?