quinta-feira, novembro 29, 2012

também tu, peter? (de pedro)


O orçamento de estado foi aprovado ontem, sem espinhas, com umas quantas declarações de voto, ok, mas nada que faça esmorecer a vontade do poder instalado. O ‘’Rápido e em força para Angola’’ de antigamente, transformado em qualquer coisa como ‘’rápido e em força para o empobrecimento geral’’ que é o continente que os tubarões querem que habitemos colectivamente, enquanto povo. A política está traçada, o rumo é este mesmo, e não há que duvidar da eficácia do medicamento. Para que o investimento estrangeiro - alemão principalmente - tenha espaço e vontade de vingar no solo pátrio, há que baixar a toda a brida o preço da mão de obra nacional, fazer concorrência aos chineses e aos indianos, e um dia voltaremos a ser competitivos.
As coisas não são directamente relacionáveis, mas atrevo-me a contar aqui uma história do foro privado que pode ilustrar, com alguma boa vontade vossa, o estado a que as coisas vão chegando.
Há uns tempos atrás, verifiquei no meu telemovel, a insistência de alguém que me queria contactar. Tentou vezes sem conta, umas vezes a seguir às outras, (eu sentia desespero no registo das chamadas não atendidas) sem que eu, por razões que não consigo lembrar, tivesse, em qualquer dessas tentativas, podido corresponder.
Uns dias passados e a mesma história: inisitências muitas, em diferentes momentos do dia, e eu, nada.
Até aqui, nada de especial. A quantos de nós é que já não nos aconteceu isto?
Um dia, alguns dias volvidos, no meio de uma nova trovoada de tentativas, consegui, finalmente, atender. Verifiquei que era de Guimarães, a capital da cultura, mais precisamante da produção cinematográfica, e que se tratava de informação sobre castings para um filme de Peter Grennaway, cineasta de cuja obra gosto e que pertence ao grupo dos meus realizadores preferidos. Fiquei contente, claro está, contente com a produção que se tinha lembrado de mim, ainda que preocupado, porque o foco da minha atenção está neste momento obcecadamente dirigido para outro acontecimento cultural. Mas ainda assim, contente. E, claro, porque se tratava de Peter Greenaway, acedi a fazer os respectivos casting, ainda que seja avesso a tais exposições. Acontece que, por razões que não consigo explicar, nunca pude nos breves momentos em que o senhor veio a Portugal, fazer coincidir as nossas agendas. Mas mesmo não fazendo os castings, vá lá saber-se porquê, fui escolhido. Eu e mais trezentos, imagino.
Faltava apenas tratar das questões essenciais: quando se filmava, e em que condições. Finalmente, como a tantos (ou todos), telefonaram-me a dar-me conta do período de filmagens, muito bem, e a avisar-me que a produção não tinha orçamento para pagar aos intérpretes.
Pouco a pouco, a nossa fama vai correndo mundo.
Havemos de pagar para trabalhar.
E quem diz o senhor Peter Greenaway, diz a Mercedes, a Wolksvagen, ou outra multinacional qualquer.
As políticas praticadas vão ou não vão cumprindo o seu papel?