quarta-feira, junho 30, 2010

as espingardas da senhora carrar









Estreia hoje no Porto, no CACE Cultural, As Espingardas da Senhora Carrar, deBertolt Brecht.
O espectáculo tem encenação minha e produção do Teatro Ensaio.

domingo, junho 20, 2010

na morte de josé saramago

Na sexta-feira, antes de uma reunião - era uma hora da tarde, mais ou menos – dei uma espreitadela na net: Saramago morrera. Vamos à procura de uma coisa, ou de nada, e levamos com o que gostariamos de não ouvir.

Depois da reunião e de um ensaio teatral imediatamente a seguir, e enquanto regressava a casa, às dez da noite, lembrei as conversas que tive com ele, duas, três, todas propiciadas pela amizade do José Manuel Mendes, e um jantar (e uma grande cabeçada que ele deu numa trave do tecto das escadas do restaurante, por baixo da qual eu passara com cuidado e que ele desvalorizou - Saramago era um homem alto, devia estar habituado às indispensáveis “vénias” - e que ainda hoje ecoa na minha memória) antes da apresentação de um livro. E de uma gravação que fiz de um dos capítulos do seu Ensaio Sobre a Cegueira e de que ele me mandou recado dizendo que gostara muito. E da sua autorização para que pudesse, sem complexos, fazer a adapatação para a rádio, da sua peça A Noite, que passaria na Rádio Universitária do Minho, num 24 de Abril qualquer. O que fizemos.

E lembrei-me que, fisicamente, ainda haveria, algures, em minha casa, essa memória registada. Uma cassete. Encontrei-a empoeirada num caixote esquecido. Data de 1991. Foi feita no Café Viana (passe a publicidade). Enquanto bebíamos (creio que) chá.

Descobri um leitor de cassetes que já não funcionava há tantos anos e ainda ouvi algumas palavras. Depois engoliu a fita. Consegui salvá-la das mandíbulas do malvado.

Já pedi ajuda para que aguém me ajude a salvar a velha gravação.

Mas se souberem de alguma solução, avisem-me.

Agradecido.

domingo, junho 13, 2010

10 de junho

- Foge cão, que te fazem barão.

- Mas para onde, se me fazem conde...

A historieta é apresentada assim, como uma anedota. Não tem directamente a ver com o 10 de Junho, mas vem a propósito dele. Porque, como então, aquele é um momento em que um conjunto (às vezes) improvável de portugueses é perseguido implacavelmente pela máquina protocolar do Estado, para que lhe sejam pendurados nos pescoços e peitos plebeus, as medalhinhas da praxe.

E sendo assim, há para festejar, com feriado e tudo, imediatamente antes dos foguetes dos santos populares (“Santo António já se acabou”... e o S. João espreita à esquina), das sardinhas assadas, dos pimentos e do manjerico. Antes do povo e das suas festanças, a festa política e burguesa que consagra Camões, Portugal e as Comunidades Portuguesas.

Nunca uma data congregou tantos senidos.

O Estado Novo, como era conhecido o regime politico antes do vinte e cinco de Abril, preferia chamar-lhe o DIA DA RAÇA e nesse gesto, consagrava a capacidade lusa em fazer civilização, versus a incapacidade nativa, africana (por exemplo), para progredir sem a nossa ‘pata’ protectora. O Dia da Raça louvava as extraordinárias qualidades nacionais para resolver o vasto território colonial, produzir organização e, com ela, riquesa, através de um regime politico musculado e autoritário, de onde brotava progresso, civilização e cultura. E assim se construía Portugal. Que era Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné, Índia e etc, num território que se estendia do Minho a Timor.

Cavaco Silva, há dois anos atrás, distraidamente, numa daquelas investidas menos pensadas, tornou a levantar essa memória, a memoria da raça, referindo-se ao 10 de Junho como o dia (DA RAÇA) que importava comemorar.

Este ano voltou a pôr a pata na poça, passe a expressão.

Não sei o que sepassa, mas por estas alturas de junho, há sempre uma ou outra coisa que o presidente diz, mesmo sem querer, que acaba por o catapultar para as primeiras páginas dos jornais. O desejo que manifestou, de ver os portugueses, pobrezinhos mas honrados, a preterirem o estrangeiro para fazer férias em território português, já buliu com Vieira da Silva, que lembrou que se todos os presidentes dos outros países dissessem o mesmo, e fosem ouvidos pelos cidadãos dos respectivos países, lá se ia o turismo português para o galheiro, que vive dos mercados internacionais, porque como se sabe, os portugueses não têm cheta para gastar. E Cavaco já respondeu ao ministro: se há uma coisa que ele sabe, enquanto professor de economia, é que quantos mais tugas forem lá para fora, para lá da selecção de futebol, mais dinheiro sai do país. Se, pelo contrário, ficarmos aqui, é dinheiro que não sai.

Obrigado presidente, pela lição de economia.

Ainda bem que já cá não está o outro, aquele que depois de hesitar numa multiplicação, nos mandava fazer as contas.

sábado, junho 05, 2010

feeling

Ouvi na rádio. Meia dúzia de dias para que, na África do Sul, comece o campeonato do mundo de futebol e já não há pachorra para aturar, nem a canção do feeling, nem as vuvuzelas.

Isto, ou muito me engano, ou vai ser sofrer até vir a mulher da fava rica.

Em Portugal, como se ouve, há quem tenha um feeling. Não se sabe exactamente de quê. Um feeling. Qualquer coisa inadjectivável na língua pátria. Uma das coisas para as quais o português calaceiro assegura não haver palavras.

A coisa é tão séria que uma instituição bancária, contratou a pirosa banda do feeling (ainda que eu não perceba nada de música), e que, vá lá saber-se porquê, foi a escolhida como a banda da selecção, e a autora do hino oficial da equipa da federação nacional de futebol. Organismo que perdeu o estatuto de Interesse Público, o que me traz mais tranquilidade, note-se. São eles que cantam, ou coisa similar, que têm um feeling. Bom, cada um tem o que pode. E na língua que quer. Que a equipa que não tem utilidade pública tenha um feeling, tudo bem. Mas que se confunda essa equipa com Portugal, e que Portugal Maíusculo tenha coisa semelhante, aí já começo a hiperventilar. Então andam uma data de portugueses a discutir acerca da validade do acordo ortográfico e eles dão-lhe com feeling? Há uma data de portugueses que asseguram, e lutam, que Olivença é Portugal, e eles feeling? e há galegos que afirmam a pés juntos que a sua língua é a galaica-portuguesa, e os fulanos têm um feeling?...

Só se for o senhor Zeinal Bava, administrador da PT que fala uma língua parecida com o português... e que fala como se não fosse administrador de uma das maiores empresas nacionais, só para convencer da sua sabedoria, uma data de deputados analfabetos, que no devido momento, não lhe disseram para ir dar uma grande volta.

Dizem os que têm um feeling, que alguma coisa boa está para acontecer.

Para já, acontecer acontecer, sabe-se, (e nem é bem acontecer, é qualquer coisa que, contando, ainda não conta), é o PSD ter praticamente a maioria das intenções de voto se, por ventura, houvesse agora eleições para a assembleia da república. E isto quer dizer que Portugal e os portugueses manifestam um irrepremível desejo (e um feeling, já agora) de mudança? Creio que não. Têm é mais pressa de bater no fundo. Ups, manifestei, inadvertidamente, pensamento politico...

Acontecer, acontece que o PS apoia Manuel Alegre, mas muito baixinho. Mário Soares já disse que ‘ele não, isso não’, que acima do partido e das suas decisões, estará sempre a sua consciência. A verdade é que Alegre, a quem ninguém cala, continuará uma espinha atravessada no goto soarista. Acontecer, acontece que Cavaco continua a não dar cavaco a ninguém e acerca da sua possível recandidatura, nem uma palavra. Ainda está a digerir o sapo que teve de engolir com a lei do casamento homosexual.

Contra o feeling de Portugal, está Maradona. Já disse que, se a Argentina vencer, despe-se, nuzinho em pelota, e dá umas corridas à volta não sei de que fonte argentina, mergulhando nela em seguida.

Bruna, a professora de Mirandela, que não precisou de ganhar mundial nenhum para tirar a roupa, e ainda bem, que o que é bonito, é para se ver.

Eu tenho o feeling de que ainda a haveremos de ver num programa de televisão qualquer, contratada por numa das nossas televisões, das boas, das espanholas, a dar música ao pais. Para já, abrilhanta festas de estudantes da UTAD. Sempre é um começo. E a prova de que, também ela, tinha um feeling quando aceitou o cheque da playboy.