sábado, fevereiro 27, 2010

haiti

Participarei - e convido-vos a assitir -num Concerto a favor das vítimas do terramoto do Haiti.
O Concerto decorrerá na Fundação Eng. António de Almeida, no Porto, às 21h30 da próxima sexta-feira, dia 5 de Março.
Vai ser giro porque, para além de poderem ajudar o povo haitiano neste momento de crise profunda, os espectadores ainda vão divertir-se ouvindo Minnemann Blues Band, a cravista Ana Mafalda Castro, o tenor Rui Taveira acompanhado pelo pianista Jaime Mota, a Orquestra Portuguesa de Saxofones, e o Jazz Faculty Ensemble.
Razões, boas, para ir, está visto.
Falta estar ouvisto.
Mas isso só na sexta.

Ah, pois. Claro! Já o tinha dito, mas repito: A receita reverterá para a aquisição de 'shelter boxes' essenciais neste momento.
Bilhetes à venda na ESMAE 968 914 394 • 225 193 762
Aparecem?

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

presidenciais

A corrida às eleições presidenciais conheceu, na semana que passou, mais um desenvolvimento, pequeno, com o aparecimento de mais um candidato. Na verdade, quando digo mais um, deveria usar, talvez, uma outra expressão qualquer, porque que se conhecesse, apenas havia um candidato anunciado. Ou melhor dito, uma disponibilidade de candidatura manifestada: Manuel Alegre já dissera que estar pronto para o combate.
Ora na semana passada, foi Fernando Nobre a dar sinal de disponibilidade, e, mais do que isso, a dizer que ia sê-lo. Candidato.
Fernando Nobre é um homem mais ou menos conhecido dos portugueses por ser presidente e fundador da AMI, assistência médica internacional, uma organização que tantos serviços tem prestado e em circunstâncias tão extraordinárias. Mas Fernando Nobre foi também um dos apoiantes de Manuel Alegre nas últimas eleições presidenciais.
Nada mais natural, portanto, que das hostes alegristas surgissem, imediatamente, algumas reacções a esta candidatura.
Helena Roseta foi uma das primeiro se manifestou, atenta.
Ora bem, numa circunstância destas, o que é que se pode dizer? Helena Roseta puxou pela cabeça e, finalmente, lá descobriu: que o Dr, disse, marcara o anúncio da sua candidatura para a hora e para o dia em que Alegre, em Coimbra, jantava com simpatizantes. Ora, assim começava mal, numa tentativa de retirar a atenção para este jantar de apoio. Isto era o que se subentendia das suas palavras.
Ora, digo eu, que se saiba, Alegre janta todos os dias, e com quem lhe apetece, seja o repasto uma coisa pública e de apoio à sua candidatura, ou não. Pensar (e dizer) que qualquer anúncio de qualquer candidatura, (quando há-de chegar à corrida, nomeadamente Garcia Pereira. Para além de Cavaco, obviamente), vinda de onde quer que venha, deva viver na dependência da agenda gastronómica de um qualquer candidato já no terreno, por mais bom garfo que seja, é coisa que me parece menos lógica.
O que deve doer um pouco mais, é a possibilidade que esta candidatura possa vir estilhaçar essa espécie de ‘’via alegrista para a cidadania’’, o cidadão fora do esquema partidário, que compete contra a máquina partidária; quando ali mesmo ao lado, há um cidadão, sem vínculo a qualquer partido e com curriculum construído ao serviço do outro, se aproxima e diz ‘’presente’’. Ainda por cima, vindo da sombra da mesma bandeira.

terça-feira, fevereiro 16, 2010

crónica de terça-feira de carnaval

Há muitas maneiras de despachar um sapato velho. De chutar para fora do nosso pé, aquilo que habitualmente chuta. E por muitas e variadas razões. Ou porque se compraram, entretanto, mais sapatos; ou porque o velho sapato ficou fora de moda; ou porque se rompeu, fez o pé molhar-se, e o arranjo, de tão caro, não se justifica; ou muito simplesmente porque, com o uso, começou a fazer magoar o pé e, mais dramaticamente, é um fazedor de desconfortáveis calos.
Isso está sempre a acontecer. Não e coisa invulgar.
No PS, e perante os desenvolvimentos recentes no caso das escutas, classificado por Sócrates como ‘jornalismo de buraco de fechadura’, fala-se agora de uma ‘moção de censura’ proposta às oposições, em jeito de desafio, mas não só. Pode ser mesmo muito mais do que isso.
Senão vejamos:
Não é estranho que um partido, que por coincidência apoia um governo, mesmo que minoritário (sobretudo por isso, mas...), que deveria falar, isso sim, de ‘moção de confiança’, fale em ‘moção de censura’ e a proponha às restantes forças partidárias? Ora, robustece-se um governo, manifestando e votando na Assembleia da República, uma moção de confiança à política desenvolvida, ao programa sufragado e às pessoas que dão corpo às políticas agendadas. Mas no PS não. No PS, com segundas intenções, ou não, pede-se às oposições que, não estando satisfeitas com o governo, apresentem uma ‘moção de censura’. Se a votação correr bem às oposições, sai de cena Sócrates, para gozo de alguns socialistas que, mais secreta ou mais publicamente, mais os primeiros que os segundos, têm aspirações ao seu lugar.
Daí eu começar por escrever que há muitas maneiras de despedir um sapato.
O desgaste de Sócrates, com estes últimos casos, está a ficar ainda mais insuportável. O homem, ou é um teimoso ou um mártir. Um herói que, julgando-se imprescindível à nação, aguenta todos os ataques, todos os enxovalhos. Que os suporta com abnegado espírito de missão.
O PS, se fosse genuinamente solidário, poderia apresentar a tal ‘moção de confiança’, mas perdia. É que ninguém, para além dos obrigados deputados socialistas, confia no governo. Com a ‘moção de censura’, poderia ser que o governo fosse mesmo censurado, as oposições se unissem, e era uma maneira bestial de acabar com ele. Mas isso interessa a quem?
Na verdade, eu creio que toda a gente acredita que Sócrates tem pulgas no seu tapete. Acontece apenas que, na política, toda a gente tem pulgas nos respectivos tapetes, e essa realidade zoológica é uma coisa mais ou menos sabida na vida politica portuguesa (mas não só). Por exemplo: toda a gente tenta controlar a comunicação social. Até Alberto João Jardim que, por causa disso mesmo, qual virgem pudica, pede a demissão de Sócrates. Marcelo, diz que também ele, sentiu ’aumentar a convicção de que o 1º ministro mentiu’.
É um verdadeiro carnaval.
Sócrates tem de mudar a imagem, diz-se nalguns círculos políticos. Pelo menos, naqueles onde se acredita, e se reza, por uma resistência estóica do ainda primeiro-ministro.
Eu, solidário, proponho que o primeiro-ministro passe a usar aparelho nos dentes, daqueles bem visíveis. Rejuvenesce – é o que dizem os estudos – porque até há muito pouco tempo o aparelho de dentes era um adereço que apenas a juventude usava, e por outro lado, manifesta a crença no futuro e, assim sendo, passa uma derradeira mensagem, mais sub-reptícia, de esperança num futuro lindo.
E agora até já há aparelhos de marca.

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

dramático

Durante a semana que passou, não se falou de outra coisa.

Num dos dias da semana, mais em concreto, no sábado, eram quatro os acontecimentos que enchiam as páginas dos jornais, quer os lidos quer os ouvistos: as notícias mais barulhentas, eram, sem dúvida, as que falavam do braço de ferro do governo com as oposições, a propósito da lei das finanças regionais, e a outra, do caso das escutas no processo Face Oculta, que indiciam uma espécie de plataforma de acção governativa (e do primeiro-ministro, pois) para controlar a comunicação social; a terceira notícia do dia, tinha a ver com o episódio de Óbidos; e, finalmente, a cena de pugilato entre um jornalista desportivo e o seleccionador de futebol Carlos Queiroz, no aeroporto de Portela.

Interessa fixar-me nas duas primeiras, por força das expressões utilizadas pelas diferentes partes, oposições e governo. Disse-se, a propósito deste episódio, que o governo estaria a criar um clima insustentável, ao sugerir que, sendo votada a lei das finanças regionais contra a sua vontade, poderia, em última análise, demitir-se. E que, portanto, isso era ‘dramatizar’. Depois disse-se, mais concretamente, que era uma ‘palhaçada’ o que estava a passar-se na casa da democracia. À Dra. Ferreira Leite, finalmente, ouvi falar em ‘teatro’ e em ‘encenação’. Tudo expressões que usamos na actividade em que trabalho, no Teatro, e que me fazem alguma confusão na boca da classe politica.

Excepção feita à expressão ‘palhaçada’, usada vezes sem conta e nos mais variados contextos, e sempre mal porque maltrata uma arte maior, todas as outras são expressões pouco frequentadas. Ou dito de outra maneira: são expressões menos frequentadas. Na verdade, ‘dramatizar’ quer dizer, realmente, ou literalmente, ‘fazer drama’. Ora, ‘fazer drama’ é tão somente dar voz às personagens que se adivinham na obra, escrita ou não, corpo e voz, as duas num espaço construído, um espaço de ilusão, bem entendido, que o palco não é a vida nem nada que se pareça, embora o cite com maior ou menor verosimilhança. ‘Dramatizar’ é, pois, e de uma forma simplificada, ‘fazer teatro’. ‘Encenar’ já é outra coisa. É uma linguagem específica do ‘fazer teatro’. É a linguagem da cena, do colocar em cena, da organização da cena. Ora em politica, essa arte é coisa ausente. Se os políticos são actores, actores disto e actores daquilo, poderemos concluír, e creio que sem grande margem de erro, que são maus actores, ou seja, maus agentes do que querem jogar. Poucos de nós ainda acreditam no que dizem ou no que prometem, são portanto, gente sem crédito. E neste caso, como em tantos, pagam os bons pelos maus. Na politica, na portuguesa em particular, e para usar um palavrão, o efeito de ‘pantanização’ está concluído e com sucesso. Parabéns, pois, aos agentes de tal mudança.

Neste caso, mais uma vez se verifica que, usando imagens e lugares comuns, os políticos atiram as suas flechas como muito bem entendem, mas quase sempre ao lado do alvo. E como não acertam nem nunca acertarão porque incapazes de acertar (não sabem manusear o arco, nem sabem de que lado é que está o alvo), dizem aos cidadãos que o sítio onde caíram as suas flechas estrábicas, é precisamente, o sítio que alvejavam, mesmo que lhes chamem coisas que dificilmente entenderão o que seja. Faz lembrar a história do archeiro que só depois de atirar a flecha, e que corria para o sítio onde ela se cravara, e a partir dela, desenhava os círculos concêntricos.

A minha pena é de não ser capaz de juntar as três ou quatro notícias da semana passada numa só. Dou de barato a cena da base da ETA em Óbidos, por ser uma coisa demasiada pesada para o meu gosto pacifista. Mas soltar um Carlos Queiroz assanhado na notícia da ‘dramatização politica’ e transformar, por momentos, a dita casa da democracia portuguesa num exemplo filipino, tinha graça e, por momentos, era uma alegria.

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

encrespados

A relação do governo com a comunicação social é, como se sabe, coisa difícil e, em muitos casos, conflituosa. Os casos avolumam-se, umas histórias a seguir às outras, coisa continuada, que deixa lastro, que valoriza as outras (tantas) histórias, que se adivinham como sendo as próximas, e que as pré-justificam.
Como, por exemplo, no caso da honorabilidade do primeiro-ministro.
Na verdade são tantas as pequenas e as grandes narrativas à volta da personagem, ou dela directamente dependentes, familiares até, (tio, mãe, primos direitos, já nem falando dos amigos dilectos), que cada uma (história) que chega e novo, já se entende por coisa normal ou, se não normal, pelo menos na sequência do que se vai entendendo como uma normalidade, e nem por um momento nos inquietamos, para lá do estremecimento inicial, óbvio. Exactamente como se as histórias conhecidas (sejam elas verdadeiras ou inventadas... creio que nunca o saberemos) fornecessem sustentação e credibilidade às histórias que chegam. ‘Credibilidade’, entre aspas, porque aqui usada na medida da coisa esperada, espectável.
São coisas precedentes, histórias que dão espaço a outras, uma espécie de comboio que se percorre por dentro, uma carruagem a seguir à outra, até que por fim se chega à carruagem bar, objectivo da caminhada volante. Pode-se estar mais perto ou mais longe dela, da carruagem-bar, e por força dessa distancia, sofrer-se mais ou menos com a sinuosidade da micro-viagem cambaleante. Que mesmo a carruagem-bar não é o objectivo último. O que interessa é o café que lá servem, o queque, ou outra coisa qualquer. Com as histórias do foro mais ou menos privado do primeiro-ministro, é assim mesmo.
Ou como com as histórias da relação do governo com a comunicação social. Uma historieta dá lugar a outra, e assim sucessivamente. Anormal é o silêncio prolongado, a falta de episódios para fazer prosseguir a acção da história. Desta vez, é a história de um encontro escutado num restaurante onde o primeiro-ministro e mais uns quantos governantes e agentes televisivos, estudavam uma metodologia qualquer para fazer saltar da roda dentada da governação, um grão de areia chamado Mário Crespo. A conversa terá ido parar a ouvidos revoltados numa mesa ao lado, e terá sido contada ao jornalista. E antes de se sentir tolhido, Mário Crespo verteu toda a história na net, uma vez que o JN se terá recusado publicar o artigo de opinião onde Crespo se encrespava e contava a sua versão.
Não se questionará, estou certo, a veracidade da notícia. Ou sim, mas também que interessa isso? O que se sabe é que, uma vez mais, Sócrates estará na ribalta da nossa atenção, bem iluminado e muito perto do teleponto. Aliás, o sítio onde ele sempre sonhou estar. E onde tem prazer em estar.
Verdade ou mentira, é questão para outras démarches. Quem ganha e quem perde é o que saberemos um dia. Se algum dia o viermos a saber. Mas isso também, que importa?

letra m

Até ao próximo sábado, inclusivé, estou (eu e o Paulo Calatré) a fazer (representar), no exactíssimo local onde foram julgadas centenas de pessoas e queimadas outras tantas (ou muitas mais... No Mosteiro de S. Bento da Vitória, no Porto, no coração da antiga judiaria), um espectáculo chamado LETRA M.

http://www.tnsj.pt/home/espetaculo.php?intShowID=195

Se puderem, quiserem, etc, lhes apetecer, estiverem para aí virados, vão ver. Não é nada de especial. Nem por nada. É só um espectáculo. É também, coincidente e dramaticamente, o último acto performativo do pintor João Vieira, cenógrafo da coisa, e falecido entretanto (já não viu o espectáculo, aliás). Vive apoiado numa espécie de instalação sonora do Carlos Augusto, foi encenado pelo Fernando Mora Ramos e construído entre Agosto e Outubro do ano passado, nas Caldas da Rainha, enquanto os camaradas da ETA tratavam de montar uma fábrica de explosivos (e uma célula) ali mesmo ao lado, em Óbidos. Mas eu juro que não estou envolvido. Embora pudesse.